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sábado, 29 de dezembro de 2012

Virgem Maria. Ícone da fé obediente


PAPA BENTO XVIAUDIÊNCIA GERAL
Sala Paulo VI
Quarta-feira, 19 de Dezembro de 2012


Virgem Maria. Ícone da fé obediente
Queridos irmãos e irmãs!
No caminho do Advento, a Virgem Maria ocupa um lugar especial, como Aquela que de maneira singular esperou a realização das promessas de Deus, acolhendo na fé e na carne Jesus, o Filho de Deus, em plena obediência à vontade divina. Hoje, gostaria de meditar brevemente convosco a propósito da fé de Maria, a partir do grande mistério da Anunciação.
«Chaîre kecharitomene, ho Kyrios meta sou», «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo!» (Lc 1, 28). São estas as palavras — citadas pelo evangelista Lucas — com as quais o arcanjo Gabriel se dirige a Maria. À primeira vista, o termo chaîre, “ave”, parece uma saudação normal, usual no âmbito grego, mas estas palavras, se forem lidas no contexto da tradição bíblica, adquirem um significado muito mais profundo. Este mesmo termo aparece quatro vezes na versão grega do Antigo Testamento e sempre como anúncio de alegria pela vinda do Messias (cf. Sf 3, 14; Gl 2, 21; Zc 9, 9; Lm 4, 21). Portanto, a saudação do anjo a Maria constitui um convite à alegria, a um júbilo profundo, anuncia o fim da tristeza que existe no mundo, diante do limite da vida, do sofrimento, da morte, da maldade e da obscuridade do mal que parece ofuscar a luz da bondade divina. Trata-se de uma saudação que marca o início do Evangelho, da Boa Nova.
Mas por que Maria é convidada a alegrar-se deste modo? A resposta encontra-se na segunda parte da saudação: “o Senhor está contigo”. Também aqui, para compreender bem o sentido desta expressão, devemos consultar o Antigo Testamento. No Livro de Sofonias encontramos esta expressão: «Alegra-te, filha de Sião... O rei de Israel, que é o Senhor, está no meio de ti... O Senhor teu Deus está no meio de ti como Salvador poderoso» (3, 14-17). Nestas palavras existe uma promessa dupla feita a Israel, à filha de Sião: Deus virá como Salvador e fará a sua morada precisamente no meio do seu povo, no ventre da filha de Sião. No diálogo entre o anjo e Maria realiza-se exactamente esta promessa: Maria é identificada com o povo desposado por Deus, é verdadeiramente a Filha de Sião em pessoa; é nela que se cumpre a expectativa da vinda definitiva de Deus, é nela que o Deus vivo faz a sua morada.
Na saudação do anjo, Maria é chamada «cheia de graça»; em grego o termo «graça», charis, tem a mesma raiz linguística da palavra «alegria». Também nesta expressão é ulteriormente esclarecida a nascente do alegrar-se de Maria: o júbilo provém da graça, ou seja, deriva da comunhão com Deus, do facto de manter um vínculo tão vital com Ele, a ponto de ser morada do Espírito Santo, totalmente plasmada pela obra de Deus. Maria é a criatura que de modo singular abriu totalmente a porta ao seu Criador, colocando-se nas suas mãos sem quaisquer limites. Ela vive inteiramente dana relação com o Senhor; põe-se em atitude de escuta, atenta a captar os sinais de Deus no caminho do seu povo; está inserida numa história de fé e de esperança nas promessas de Deus, que constitui o tecido da sua existência. E submete-se de maneira livre à palavra recebida, à vontade divina na obediência da fé.
O evangelista Lucas narra a vicissitude de Maria através de um paralelismo requintado com a vicissitude de Abraão. Do mesmo modo como o grande Patriarca é o pai dos crentes, que respondeu à chamada de Deus para sair da terra em que vivia, das suas seguranças, para começar a percorrer o caminho rumo a uma terra desconhecida e possuída só na promessa divina, assim Maria entrega-se com plena confiança à palavra que lhe anuncia o mensageiro de Deus, tornando-se modelo e mãe de todos os crentes.
Gostaria de sublinhar mais um aspecto importante: a abertura da alma a Deus e à sua obra na fé inclui também o elemento da obscuridade. A relação do ser humano com Deus não cancela a distância entre Criador e criatura, não elimina aquilo que o apóstolo Paulo afirma perante as profundezas da sabedoria de Deus: «Quão impenetráveis são os seus juízos e inexploráveis os seus caminhos!» (Rm 11, 33). Mas precisamente aquele que — como Maria — está aberto de modo total a Deus, consegue aceitar a vontade divina, ainda que seja misteriosa, embora muitas vezes não corresponda à propria vontade e seja uma espada que trespassa a alma, como profeticamente o velho Simeão dirá a Maria no momento em que Jesus é apresentado no Templo (cf. Lc 2, 35). O caminho de fé de Abraão abrange o momento de alegria pelo dom do filho Isaac, mas inclusive o momento da obscuridade, quando deve subir ao monte Moriá para cumprir um gesto paradoxal: Deus pede-lhe que sacrifique o filho que lhe tinha acabado de doar. No monte, o anjo ordena-lhe: «Não estendas a tua mão sobre o menino, e não lhe faças nada; agora sei que temes a Deus, e não me negaste o teu filho, o teu único filho» (Gn 22, 12); a confiança plena de Abraão no Deus fiel às promessas não esmorece nem sequer quando a sua palavra é misteriosa e difícil, quase impossível, de aceitar. É assim que acontece para Maria, pois a sua fé vive a alegria da Anunciação, mas passa inclusive através da obscuridade da crucifixão do seu Filho, para poder chegar até à luz da Ressurreição.
Não é diferente inclusive para o caminho de fé de cada um de nós: encontramos momentos de luz, mas vivemos também outros nos quais Deus parece ausente; o seu silêncio pesa no nosso coração e a sua vontade não corresponde à nossa, àquilo que nós gostaríamos. Mas quanto mais nos abrirmos a Deus, acolhermos o dom da fé, depositarmos totalmente nele a nossa confiança — como Abraão e como Maria — tanto mais Ele nos torna capazes, mediante a sua presença de viver cada situação da vida na paz e na certeza da sua fidelidade e do seu amor. No entanto, isto significa sair de nós mesmos e dos nossos projectos, a fim de que a Palavra de Deus seja a lâmpada orientadora dos nossos pensamentos e das nossas acções.
Gostaria de reflectir ainda sobre um aspecto que sobressai das narrações sobre a Infância de Jesus, escritas por são Lucas. Maria e José levam o Filho a Jerusalém, ao Templo, para o apresentar e consagrar ao Senhor, como prescreve a lei de Moisés: «Todo o primogénito varão será consagrado ao Senhor» (cf. Lc 2, 22-24). Este gesto da Sagrada Família adquire um sentido ainda mais profundo, se o interpretarmos à luz da ciência evangélica de Jesus com doze anos que, depois de três dias de procura, é encontrado no Templo a dialogar com os doutores. Às palavras cheias de preocupação de Maria e José: «Filho, porque nos fizeste isto? Olha que teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura», corresponde a resposta misteriosa de Jesus: «Por que me procuráveis? Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?» (Lc 2, 48-49). Ou seja, na propriedade do Pai, na casa do Pai, como o é um filho. Maria deve renovar a fé profunda com que disse «sim» na Anunciação; deve aceitar que a precedência seja do verdadeiro Pai de Jesus; deve saber deixar livre aquele Filho que gerou, a fim de que siga a sua missão. E o «sim» de Maria à vontade de Deus, na obediência da fé, repete-se ao longo de toda a sua vida, até ao momento mais difícil da Cruz.
Diante de tudo isto, podemos interrogar-nos: como foi que Maria conseguiu viver este caminho ao lado do Filho, com uma fé tão sólida, também nas obscuridades, sem perder a confiança completa na obra de Deus? Existe uma atitude de fundo que Maria assume perante aquilo que se verifica na sua vida. Na Anunciação, Ela sente-se perturbada ao ouvir as palavras do anjo — trata-se do temor que o homem sente quando é tocado pela proximidade de Deus — mas não é a atitude de quantos têm medo diante daquilo que Deus pode pedir. Maria medita, interroga-se a respeito do significado de tal saudação (cf. Lc 1, 29). O termo grego utilizado no Evangelho para definir este «meditar», «dielogizeto», evoca a raiz da palavra «diálogo». Isto significa que Maria entra em diálogo íntimo com a Palavra de Deus que lhe foi anunciada, não a considera superficialmente, mas detém-se, deixa-a penetrar na sua mente e no seu coração para compreender aquilo que o Senhor deseja dela, o sentido do anúncio. Outra referência à atitude interior de Maria diante da obra de Deus encontramo-la, ainda no Evangelho de são Lucas, no momento da Natividade de Jesus, depois da adoração dos pastores. Afirma-se que Maria «conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração» (Lc 2, 19); em grego, o termo é symballon; poderíamos dizer que Ela «mantinha unidos», «reunia» no seu coração todos os eventos que lhe estavam a acontecer; colocava cada um dos elementos, cada palavra, cada acontecimento no interior do tudo confrontando-o, conservando-o e reconhecendo que tudo deriva da vontade de Deus. Maria não se limita a uma primeira compreensão superficial daquilo que acontece na sua vida, mas sabe olhar em profundidade, deixa-se interpelar pelos eventos, elabora-os, discerne-os e alcança aquele entendimento que só a fé pode garantir. É a humildade profunda da fé obediente de Maria, que acolhe em si mesma também aquilo que não compreende no agir de Deus, deixando que seja Deus quem abre a sua mente e o seu coração. «Feliz daquela que acreditou que teria cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor» (Lc 1, 45), exclama a sua prima Isabel. É precisamente pela sua fé, que todas as gerações lhe chamarão ditosa.
Caros amigos, a solenidade do Natal do Senhor, que daqui a pouco celebraremos, convida-nos a viver esta mesma humildade e obediência de fé. A glória de Deus não se manifesta no triunfo e no poder de um rei, não resplandece numa cidade famosa, num palácio luxuoso, mas faz a sua morada no ventre de uma virgem, revela-se na pobreza de um menino. A omnipotência de Deus, também na nossa vida, age com a força, muitas vezes silenciosa, da verdade e do amor. Então, a fé diz-nos que no final o poder indefeso daquele Menino vence o ruído das potências do mundo.


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O Ano da Fé. As etapas da Revelação

PAPA BENTO XVIAUDIÊNCIA GERAL
Sala Paulo VI
Quarta-feira, 12 de Dezembro de 2012


O Ano da Fé. As etapas da Revelação
Queridos irmãos e irmãs,
Na catequese passada falei da Revelação de Deus, como comunicação que Ele faz de Si mesmo e do seu desígnio de benevolência e de amor. Esta Revelação de Deus insere-se no tempo e na história dos homens: história que se torna «o lugar onde podemos constatar a obra de Deus em favor da humanidade. Ele vem ter connosco, servindo-se daquilo que nos é mais familiar e mais fácil de verificar, ou seja, o nosso contexto quotidiano, fora do qual não conseguiríamos entender-nos» (João Paulo II, Encíclica Fides et ratio, 12).
O evangelista são Marcos — como ouvimos — cita com termos claros e sintéticos, os momentos iniciais da pregação de Jesus: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo» (Mc 1, 15). O que ilumina e dá sentido pleno à história do mundo e do homem começa a resplandecer na gruta de Belém; é o Mistério que contemplaremos daqui a pouco, no Natal: a salvação que se realiza em Jesus Cristo. Em Jesus de Nazaré Deus manifesta o seu rosto e pede a decisão do homem de o reconhecer e seguir. O revelar-se de Deus na história, para entrar em relação de diálogo de amor com o homem, dá um novo sentido a todo o caminho humano. A história não é um simples suceder-se de séculos, anos e dias, mas é o tempo de uma presença que lhe confere pleno significado, abrindo-a a uma esperança sólida.
Onde podemos ler as etapas desta Revelação de Deus? A Sagrada Escritura é o lugar privilegiado para descobrir os acontecimentos deste caminho, e gostaria — mais uma vez — de convidar todos, nestes Ano da fé, a tomar nas mãos mais frequentemente a Bíblia para a ler e meditar, e a prestar maior atenção às Leituras da Missa dominical; tudo isto constitui um alimento precioso para a nossa fé.
Lendo o Antigo Testamento podemos ver que as intervenções de Deus na história do povo que Ele escolhe para Si e com o qual estabelece aliança não são eventos que passam e caem no esquecimento, mas tornam-se «memória», constituem juntos a «história da salvação», conservada viva na consciência do povo de Israel através da celebração dos acontecimentos salvíficos. Assim, no Livro do Êxodo o Senhor indica a Moisés que celebre o grande momento da libertação da escravidão do Egipto, a Páscoa judaica, com estas palavras: «Conservareis a memória daquele dia, celebrando-o com uma festa em honra do Senhor: fareis isso de geração em geração, pois é uma instituição perpétua» (12, 14). Para todo o povo de Israel, recordar o que Deus realizou torna-se uma espécie de imperativo constante, para que o transcorrer do tempo seja marcado pela memória viva dos acontecimentos passados, que assim formam, dia após dia, de novo a história e permanecem presentes. No Livro do Deuteronómio, Moisés dirige-se ao povo, dizendo: «Cuida de nunca esqueceres o que viste com os teus olhos, e toma cuidado para que isso nunca saia do teu coração, enquanto viveres; e ensina-o aos teus filhos, e aos filhos dos teus filhos» (4, 9). E assim diz também a nós: «Cuida de nunca esqueceres o que Deus fez por nós». A fé é alimentada pela descoberta e pela memória do Deus sempre fiel, que guia a história e constitui o fundamento seguro e estável sobre o qual apoiar a própria vida. Também o cântico do Magnificat, que a Virgem Maria eleva a Deus, é um exemplo excelso desta história da salvação, desta memória que torna e mantém presente o agir de Deus. Maria exalta o agir misericordioso de Deus no caminho concreto do seu povo, a fidelidade às promessas de aliança feitas a Abraão e à sua descendência; e tudo isto é memória viva da presença divina que nunca esmorece (cf. Lc 1, 46-55).
Para Israel, o Êxodo é o evento histórico central em que Deus revela o seu agir poderoso. Deus liberta os israelitas da escravidão do Egipto, para que possam regressar à Terra prometida e adorá-lo como Senhor único e verdadeiro. Israel não se põe a caminho para ser um povo como os outros — para ter também ele uma independência nacional — mas para servir Deus no culto e na vida, a fim de criar para Deus um lugar onde o homem lhe é obediente, onde Deus está presente e é adorado no mundo; e, naturalmente, não só para eles, mas para o testemunhar no meio dos outros povos. Celebrar este evento é torná-lo presente e actual, porque a obra de Deus não desfalece. Ele é fiel ao seu desígnio de libertação e continua a persegui-lo, a fim de que o homem possa reconhecer e servir o seu Senhor e responder com fé e amor ao seu agir.
Portanto, Deus revela-se não só no gesto primordial da criação, mas entrando na nossa história, na história de um pequeno povo que não era o mais numeroso, nem o mais forte. E esta Revelação de Deus, que continua na história, culmina em Jesus Cristo: Deus, o Logos, a Palavra criadora que está na origem do mundo, encarnou em Jesus e mostrou o verdadeiro rosto de Deus. Em Jesus realizam-se todas as promessas, nele culmina a história de Deus com a humanidade. Quando lemos a narração dos dois discípulos a caminho de Emaús, escrita por são Lucas, vemos como sobressai de modo claro que a pessoa de Cristo ilumina o Antigo Testamento, toda a história da salvação, e mostra o grande desígnio unitário dos dois Testamentos, indica o caminho da sua unicidade. Com efeito, Jesus explica aos dois viandantes confusos e decepcionados, que Ele é o cumprimento de todas as promessas: «E começando por Moisés, percorrendo todos os profetas, explicava-lhes o que dele se fora dito em todas as Escrituras» (24, 27). O evangelista cita a exclamação dos dois discípulos depois de ter reconhecido que aquele companheiro de viagem era o Senhor: «Não ardia o nosso coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?» (v. 32).
Catecismo da Igreja Católica resume as etapas da Revelação divina, indicando sinteticamente o seu desenvolvimento (cf. nn. 54-64): Deus convidou o homem desde os primórdios a uma comunhão íntima consigo, e até quando o homem, pela sua própria desobediência, perdeu a sua amizade, Deus não o quis abandonar ao poder da morte, mas ofereceu muitas vezes aos homens a sua aliança (cf. Missal Romano, Oração eucarística IV). O Catecismo repercorre o caminho de Deus com o homem, desde a aliança com Noé depois do dilúvio, até à chamada de Abraão, a sair da sua terra para fazer dele pai de uma multidão de povos. Deus forma Israel como seu povo, através do evento do Êxodo, a aliança do Sinai e o dom, por meio de Moisés, da Lei para ser reconhecido e servido como o único Deus vivo e verdadeiro. Com os profetas, Deus guia o seu povo na esperança da salvação. Conhecemos — através de Isaías — o «segundo Êxodo», o regresso do exílio da Babilónia para a própria terra, a refundação do povo; mas ao mesmo tempo, muitos permanecem na dispersão e assim tem início a universalidade desta fé. No final, já não se espera apenas um rei, David, um filho de David, mas um «Filho do homem», a salvação de todos os povos. Realizam-se encontros entre as culturas, primeiro com a Babilónia e a Síria, depois também com a multidão grega. Assim vemos como o caminho de Deus se amplia, se abre cada vez mais para o Mistério de Cristo, Rei do universo. Em Cristo realiza-se finalmente a Revelação na sua plenitude, o desígnio de benevolência de Deus: Ele mesmo faz-se um de nós.
Detive-me a fazer memória do agir de Deus na história do homem, para mostrar as etapas deste grande desígnio de amor testemunhado no Antigo e no Novo Testamento: um único desígnio de salvação dirigido à humanidade inteira, progressivamente revelado e realizado pelo poder de Deus, onde Deus reage sempre às respostas do homem e encontra novos inícios de aliança quando o homem se perde. Isto é fundamental no caminho de fé. Estamos no tempo litúrgico do Advento, que nos prepara para o Santo Natal. Como todos nós sabemos, o termo «Advento» significa «vinda», «presença», e no passado indicava precisamente a chegada do rei ou do imperador a uma determinada província. Para nós, cristãos, esta palavra indica uma realidade maravilhosa e impressionante: o próprio Deus cruzou o seu Céu e debruçou-se sobre o homem; estabeleceu uma aliança com ele, entrando na história de um povo; Ele é o rei que desceu nesta pobre província que é a terra e concedeu-nos a sua visita assumindo a nossa carne, tornando-se homem como nós. OAdvento convida-nos a repercorrer o caminho desta presença e recorda-nos sempre de novo que Deus não saiu do mundo, não está ausente, não nos abandonou a nós mesmos, mas vem ao nosso encontro de vários modos, que devemos aprender a discernir. E também nós, com a nossa fé, a nossa esperança e a nossa caridade, somos chamados todos os dias a divisar e testemunhar esta presença no mundo muitas vezes superficial e distraído, e a fazer resplandecer na nossa vida a luz que iluminou a gruta de Belém. Obrigado!



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domingo, 16 de dezembro de 2012

PAPA BENTO XVIAUDIÊNCIA GERAL
Sala Paulo VI
Quarta-feira, 12 de Dezembro de 2012


Queridos irmãos e irmãs,
A Revelação, a comunicação que Deus faz de si mesmo e do seu desígnio de benevolência e de amor, se insere no tempo e na história dos homens. A Sagrada Escritura ensina que Deus, desde o início, veio ao encontro do homem, chamando-o a uma íntima comunhão com Ele. E mesmo quando o homem se afastou d’Ele pela desobediência, Deus não cessou de oferecer ao homem a sua aliança: com Noé, depois do dilúvio; chamando Abraão a deixar a sua terra para tornar-se pai de uma multidão de povos; libertando o povo de Israel da escravidão do Egito e estabelecendo uma Aliança; guiando Israel por meio dos profetas, fazendo crescer a esperança de uma Nova Aliança destinada a todos os homens e que se realiza em Cristo, Aquele que ilumina e dá sentido pleno à história de Deus com a humanidade. De fato, estes são acontecimentos que não “passam” nem caem no esquecimento, mas se tornam memória, constituem a “história da salvação”. Assim, a fé é alimentada pela descoberta e a memória de Deus sempre fiel, que guia a história e constitui o fundamento seguro e estável sobre o qual podemos apoiar as nossas vidas.
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Deus revela o seu "desígnio de benevolência"


PAPA BENTO XVIAUDIÊNCIA GERAL
Sala Paulo VI
Quarta-feira, 5 de Dezembro de 2012


O Ano da Fé. Deus revela o seu "desígnio de benevolência"
Queridos irmãos e irmãs,
No início da sua Carta aos cristãos de Éfeso (cf. 1, 3-14), o apóstolo Paulo eleva uma prece de bênção a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos introduz na vivência do tempo deAdvento, no contexto do Ano da fé. O tema deste hino de louvor é o projecto de Deus a respeito do homem, definido com termos repletos de alegria, de enlevo e de acção de graças, como um «desígnio de benevolência» (v. 9), de misericórdia e de amor.
Por que motivo o Apóstolo eleva a Deus, do profundo do seu coração, esta bênção? Porque vê o seu agir na história da salvação, culminado na encarnação, morte e ressurreição de Jesus, e contempla como o Pai celeste nos escolheu ainda antes da criação do mundo, para sermos seus filhos adoptivos. No seu Filho Unigénito, Jesus Cristo (cf. Rm 8, 14s.; Gl 4, 4 s.). Nós existimos desde a eternidade na mente de Deus, num grande desígnio que Deus conservou em si mesmo e que decidiu pôr em prática e revelar «na plenitude dos tempos» (cf. Ef 1, 10). Por conseguinte, são Paulo faz-nos compreender como toda a criação e, de modo particular, o homem e a mulher, não são fruto do acaso, mas correspondem a um desígnio de benevolência da razão eterna de Deus que, com o poder criador e redentor da sua Palavra, dá origem ao mundo. Esta primeira afirmação recorda-nos que a nossa vocação não consiste simplesmente em existir no mundo, em sermos inseridos numa história, e nem sequer apenas em sermos criaturas de Deus; é algo ainda maior: é o facto de termos sido escolhidos por Deus, ainda antes da criação do mundo, no seu Filho Jesus Cristo. Portanto nele nós existimos — por assim dizer — desde sempre. Deus contempla-nos em Cristo, como filhos adoptivos. O «desígnio de benevolência» de Deus, que é qualificado pelo Apóstolo como «desígnio de amor» (Ef 1, 5), é definido «o mistério» da vontade divina (cf. v. 9), escondido e agora manifestado na Pessoa e na obra de Jesus Cristo. A iniciativa divina precede toda a resposta humana: trata-se de um dom gratuito do seu amor, que nos envolve e nos transforma.
Mas qual é a finalidade derradeira deste desígnio misterioso? Qual é o centro da vontade de Deus? É aquele — diz-nos são Paulo — de «reconduzir a Cristo, única Cabeça, todas as coisas» (v. 10). Nesta expressão nós encontramos uma das formulações fulcrais do Novo Testamento, que nos fazem compreender o desígnio de Deus, o seu projecto de amor pela humanidade inteira, uma formulação que, no século ii, santo Ireneu de Lião inseriu como núcleo da sua cristologia: «recapitular» toda a realidade em Cristo. Talvez alguns de vós se recordem da fórmula utilizada pelo Papa São Pio x, para a consagração do mundo ao Sagrado Coração de Jesus: «Instaurare omnia in Christo», fórmula que se inspira nesta expressão paulina e que era também o lema daquele santo Pontífice. No entanto, o Apóstolo fala mais precisamente de recapitulação do universo em Cristo, e isto significa que no grande desígnio da criação e da história, Jesus Cristo eleva-se como centro de todo o caminho do mundo, eixo principal de tudo, que atrai a si toda a realidade, para superar a dispersão e o limite, e reconduzir tudo à plenitude desejada por Deus (cf.Ef 1, 23).
Este «desígnio de benevolência» não permaneceu, por assim dizer, no silêncio de Deus, na altura do seu Céu, mas fê-lo conhecer entrando em relação com o homem, ao qual não revelou apenas algo, mas revelou-se a si mesmo. Ele não comunicou simplesmente um conjunto de verdades, mas comunicou-se a si mesmo, a ponto de se fazer um de nós, até se encarnar. O Concílio Ecuménico Vaticano ii na Constituição dogmática Dei Verbum diz: «Aprouve a Deus, na sua bondade e sabedoria, revelar-se a si mesmo [não apenas a algum aspecto de si, mas a Ele próprio] e dar a conhecer o mistério da sua vontade (cf. Ef 1, 9), segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e tornam-se participantes da natureza divina» (n. 2). Deus não só diz algo, mas comunica-se a si mesmo, atrai-nos na natureza divina, de tal modo que nós somos envolvidos nela, que somos divinizados. Deus revela o seu grande desígnio de amor, entrando em relação com o homem, aproximando-se dele a ponto de se fazer Ele mesmo homem. O Concílio acrescenta: «Deus invisível... na riqueza do seu amor fala aos homens como a amigos (cf. Êx 33, 11; Jo 15, 14-15) e convive com eles (cf. Br 3, 38) para os convidar e admitir à comunhão com Ele» (Ibidem). Unicamente com a sua inteligência e com as suas capacidades, o homem não teria podido alcançar esta revelação tão luminosa do amor de Deus; foi Deus que abriu o seu Céu e se humilhou para orientar o homem rumo ao abismo do seu amor.
São Paulo escreve ainda aos cristãos de Corinto: «Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou... tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que O amam. Todavia, Deus no-las revelou pelo seu Espírito, porque o Espírito penetra tudo, mesmo as profundezas de Deus» (1 Cor 2, 9-10). E são João Crisóstomo, numa célebre página de comentário do início da Carta aos Efésios, convida a saborear toda a beleza deste «desígnio de benevolência» de Deus revelado em Cristo, com as seguintes palavras: «O que te falta? Tornaste-te imortal, tornaste-te livre, tornaste-te filho, tornaste-te justo, tornaste-te irmão, tornaste-te co-herdeiro; reinas com Cristo e com Cristo és glorificado. Tudo nos foi doado e — como está escrito — «como não nos dará também com Ele todas as coisas?» (Rm 8, 32). As tuas primícias (cf. 1 Cor 15, 20.23) são adoradas pelos anjos [...]: o que é que te falta?» (pg 62, 11).
Esta comunhão em Cristo, por obra do Espírito Santo, oferecida por Deus a todos os homens com a luz da Revelação, não é algo que vem a sobrepor-se acima da nossa humanidade, mas constitui o cumprimento das aspirações mais profundas, daquele desejo de infinito e de plenitude que se abriga no íntimo do ser humano, abrindo-o a uma felicidade não momentânea nem limitada, mas eterna. São Boaventura de Bagnoregio, referindo-se a Deus que se revela e nos fala através das Sagradas Escrituras para nos conduzir a Ele, faz a seguinte afirmação: «A Sagrada Escritura é [...] o livro no qual estão escritas palavras de vida eterna para que não apenas acreditemos, mas também possuamos a vida eterna, na qual veremos, amaremos e serão realizados todos os nossos desejos» (Breviloquium, Prol.; Opera Omnia vv. 201 s.). Finalmente, o Beato Papa João Paulo ii recordava que «a Revelação coloca dentro da história um ponto de referência de que o homem não pode prescindir, se quiser chegar a compreender o mistério da sua existência; mas, por outro lado, este conhecimento apela constantemente para o mistério de Deus que a mente não consegue abarcar, mas apenas receber e acolher na fé» (Encíclica Fides et ratio, 14).
Nesta perspectiva, o que é portanto o acto da fé? É a resposta do homem à Revelação de Deus, que se faz conhecer, que manifesta o seu desígnio de benevolência; é, para utilizar uma expressão agostiniana, deixar-se conquistar pela Verdade que é Deus, uma Verdade que é Amor. Por isso, são Paulo ressalta que é a Deus, que revelou o seu mistério, que se deve «a obediência da fé» (Rm16, 26; cf. 1, 5; 2 Cor 10, 5-6), a atitude mediante a qual «o homem se entrega total e livremente a Deus, oferecendo a Deus revelador o obséquio pleno da inteligência e da vontade... e prestando voluntário assentimento à sua revelação» (Constituição dogmática Dei Verbum, 5). Tudo isto leva a uma mudança fundamental no modo de se relacionar com toda a realidade; tudo aparece numa luz nova; por conseguinte, trata-se de uma verdadeira «conversão», pois a fé consiste numa «mudança de mentalidade», porque o Deus que se revelou em Jesus Cristo e faz conhecer o seu desígnio de amor, conquista-nos, atrai-nos e torna-se o sentido que sustém a vida, a rocha sobre a qual ela pode encontrar estabilidade. No Antigo Testamento encontramos uma densa expressão sobre a fé, que Deus confia ao profeta Isaías a fim de que a comunique ao rei de Judá, Acaz. Deus afirma: «Se não acreditardes — ou seja, se não permanecerdes fiéis a Deus — não conseguireis subsistir» (Is 7, 9b). Portanto, existe um vínculo entre o estar e o compreender, que expressa bem o modo como a fé é um acolher na própria vida a visão de Deus sobre a realidade, deixar que seja Deus a orientar-nos com a sua Palavra e os seus Sacramentos para compreendermos o que devemos realizar, qual é o caminho que devemos percorrer, como havemos de viver. Mas ao mesmo tempo, é precisamente o compreender em conformidade com Deus, o ver com os seus olhos, que torna a nossa vida estável, que nos permite «permanecer de pé» e não cair.
Estimados amigos, o Advento, o tempo litúrgico ao qual há pouco demos início e que nos prepara para o Santo Natal, coloca-nos diante do mistério luminoso da vinda do Filho de Deus, do grandioso «desígnio de benevolência» com o qual Ele deseja atrair-nos a si, para nos fazer viver em plena comunhão de alegria e de paz com Ele. O Advento convida-nos mais uma vez, no meio de tantas dificuldades, a renovar a certeza de que Deus está presente: Ele entrou no mundo, fazendo-se um de nós, para levar à plenitude o seu plano de amor. E Deus pede-nos que, também nós, nos tornemos um sinal da sua obra no mundo. Através da nossa fé, da nossa esperança e da nossa caridade, Ele quer entrar no mundo sempre de novo e, sempre de novo, deseja fazer resplandecer a sua luz na nossa noite.





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domingo, 9 de dezembro de 2012

PAPA BENTO XVI AUDIÊNCIA GERAL
Sala Paulo VI
Quarta-feira, 5 de Dezembro de 2012

  • Queridos irmãos e irmãs,
  • O tempo litúrgico do Advento prepara-nos para acolher e aderir ao grande desígnio de benevolência de Deus, que o Natal de seu Filho, feito homem como nós, coloca diante dos nossos olhos. Tal desígnio não ficou oculto no alto dos Céus, mas Deus, na riqueza do seu amor, fala aos homens como amigos e convive com eles, para os convidar e admitir à comunhão com Ele, em Cristo por obra do Espírito Santo. Esta comunhão é a realização daquele desejo infinito de plenitude que habita no íntimo do ser humano e o abre para a felicidade eterna. Entretanto, a nossa mente não consegue abarcar completamente este desígnio de benevolência divina, mas pode apenas recebê-lo e acolhê-lo na fé. O ato de fé é a resposta do homem à revelação que Deus Se dignou fazer-lhe, acolhendo na vida o benevolente desígnio que Ele tem para a humanidade e a criação inteira: recapitular tudo em Cristo, reunindo n’Ele o que há no céu e na terra.* * *


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terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Uma bela reflexão sobre Angola - Ir. Margarita Pantoja













MISSIONÁRIAS DE SANTA TERESINHA – 30 ANOS DE MISSÃO EM ANGOLA
REFLEXÃO SOBRE ANGOLA*
“O Maria ngana ia muhatu ia jimisá.
Tubane-ku Jimissionário javulu jakola!”
(Kimbundo)
“Ó Maria Rainha das Missões.
Dai-nos muitos e santos missionários!”
(tradução)
Angola é um País que fica na zona sub equatorial e tropical do hemisfério Sul, no sudoeste da África. Faz fronteira com a República Democrática do Congo e a República do Congo – Brazzaville  ao Norte, com a República da Zâmbia a Leste, com a República da Namíbia ao Sul. A Oeste. Angola é banhada pelo oceano Atlântico, por isso Luanda, a Capital do País, tem uma belíssima praia enfeitando sua frente, lugar encantador chamado carinhosamente pelos Angolanos de a Ilha. O pôr do Sol ali é maravilhoso e faz perceber o quanto Deus ama esta terra, pois suas belezas naturais são encantadoras.
Do Ponto de vista administrativo, Angola é formada por dezoito províncias, divididas por municípios que, por sua vez,  subdividem-se em Comunas.
Ah! Cada Comuna tem um “SOBA”, o mais velho, que representa o governo e também a policia, pois ele ajuda resolver os problemas sociais e de familias. É bonito de ver em cada  Comuna a bandeira de Angola desfraldada na casa do “SOBA”. Foi uma das observações que fiz logo ao passar por elas.
A palavra “Angola” deriva de “Ngola” que era o título dos reis do Reino de Ndongo. Passado os anos uma interpretação fonológica decorrente desta expressão fez surgir a expressão “Angola” em Kimbundu. Daí o reino de Ndongo passou a chamar-se pelos portugueses de Reino de Angola. Nome que foi se estendendo a todos os territórios que fazem parte deste País.
Angola vive um momento de euforia, é um canteiro de obras para todos os lados, estradas predios, pontes sobre rios, elevados etc. Há chineses e brasileiros em quase todas as obras das quais me aproximei. Os chineses, na verdade, estão dominando,  vemos eles dirigindo todos os carros nas obras das estradas.
Meu olhar  foi atraido pela imensa estratificação social. Vemos, de um lado, um país riquíssimo, o  do petróleo, do diamante e de grandes investimentos.De outro lado, vemos os fugitivos da guerra interna de Angola, refugiados vindos das aldeias, que não dominam a técnica dos trabalhos urbanos, por isso não encontram um lugar onde há vagas de trabalho. Estes irão continuar sobrando, cansados de esperar e passar necessidade. Não sei se o SOBA, dará conta de resolver as situações que virão depois...
As mulheres se destacam na manutenção da familia, vão a luta cedo, são chamadas de ZUNGUEIRAS. As zungueiras são as milhares de angolanas que saem às ruas vendendo todo o tipo de mercadorias que carregam na cabeça mesmo. Eu chamei de SUPERMERCADO AMBULANTE, pois tem de tudo mesmo.  Elas atendem a um público específico e oferecem produtos como roupas de todo tipo,  batas e peças inteiras de panos multicoloridos, ricamente estampados com figuras africanas e linhas geométricas, típicos. Elas caminham o dia todo, sob o sol escaldante. Equilibram de forma impressionante sobre a cabeça balaios, sacos, cestos, bacias e sacolas onde transportam as mercadorias que vendem. Estas mulheres entram no transito perigoso de Luanda, desafiam os riscos com seus filhos atados às costas com panos coloridos, e ao chegar em casa preparam, às vezes, o unico alimento do dia para a familia. Muitas ainda são segunda ou terceirta esposa, o que lhe aumenta mais a responsabilidade com a familia. (depois falo mais sobre isso e o que vi). Essas mulheres e suas crianças têm olhares tão profundos, interrogam e pedem socorro ao mesmo tempo sem nehuma palavra!
MEU PRESENTE
O período de 25 de agosto a 25 de setembro de 2012, foi  momento de graça e bondade de Deus. Ele graciosamente me preparou este presente de 50 anos de vida. Eu que sempre sonhei fazer parte desta missão e nunca pude, agora estive lá a render Graças  no momento dos 30 anos de nossa Missão em terras africanas especificamente em solo Angolano.
Tive 06 momentos fortes durante este período:

Ø  Convivência em cada comunidade na seguinte ordem: Palanca, Simione, Malange
Ø  Conversa com cada irmã e com as jovens Angolanas que residem em nossas casas
Ø  Conversa com os profissionais que trabalham conosco.
Ø  Assembléia de avaliação da Missão
Ø  Visitas  : arcebispo de  Malange, Dom Benedito Roberto, Dom Novatus Rigomboa – Núncio Apostólico de Angola, Dom Damião – Arcebispo  emérito da Arquidiocese de  Angola
Ø  Visitas a alguns lugares e pessoas: Santuário da Mamã Muxima, Quedas do Rio Kuanza, Pedras Negras, Quedas de Kalandula, Aldeias de Malange, Sr. Gabriel ( Tio Gabi). Visitas a algumas congregações amigas.
MINHA VISÂO
Com as observações, a convivência e as conversas que tive tenho a seguinte visão sobre esta Missão:
A convivência nas comunidades é muito intensa, há fraternidade, respira-se espiritualidade, e vivência do carisma. Trabalha-se muito, temos um imenso e largo campo de atuação, as irmãs se esforçam bastante e dão a vida  como diz nosso lema da assembleia 2012: até “o sangue”, ou, para brincar com a seriedade da vida, até o próximo PALUDISMO.
Percebi um esforço muito grande para se dar conta de tantas atividades, eram 08 irmãs (em 2013  só serão cinco) para:
Ø  Um Escola – Santa Teresinha com 860 alunos – 430 em cada turno – Luanda – Bairro do Simione – da educação infantil ao 6º ano
Ø  Centro Infantil comunitário- 60 Crianças – Simione -01 a 04 anos – Luanda
Ø  Centro Infantil Comunitário – 80 crianças- Palanca – 01 a 04 anos – Luanda
Ø  Pastorais na Paróquia Beata Anuarite, comunidade  Santa Teresinha: Celebração nas  Aldeias e comunidades, Assessorias em: Pastoral Familiar, catequese, Infância Missionária, ministros da Eucaristia, Juventude, Liturgia, Dízimo e ainda  Formação inicial.
Ø  Posto de Saúde Dom Eliseu -  Atendimento diário: CPN (consulta do Pré natal, análises, vacinas etc.) Laboratório de análises químico, pediatria e medicina (consulta de adultos e crianças)feito pelos enfermeiros Angolanos.
Ø  Escola Irmã Edith – 650 alunos – Malange,  2 turnos.
Ø  Secretariado Diocesano de Pastoral – Malange
Ø  08 Aldeias – Malange
Ø  04 Comunidades Urbanas - Malange
Ø  Formação: temos 03 vocacionadas morando com as irmãs em Simione e 04 aspirantes em Palanca.
MINHA MISSÃO
 Fui à Angola com o objetivo de sentir o suspiro  das comunidades  da Missão Angolana,   captar a vida real e cotidiana,  compartilhar este suspiro dentro das relações ao redor do carisma que tornam sólida e significativa esta família religiosa diante dos apelos de Jesus e contribuir para renovar o vigor Missionário  através de: visitas canônicas. assembléia e celebração jubilar, motivando o compromisso com a identidade de Missionária de Santa Teresinha.
Eu senti como suspiro, captei como vida: Uma Missão animada, empolgada, viva, cheia de atividades, socialmente e eclesialmente entrosada e conectada, preocupada com a formação inicial e o crescimento da congregação, intercongregacional e solidária com outras congregações, carisma congregacional vivo e compartilhado com o grupo de leigos - O FESTa; Senti suspiros encantadores que cativam e atraem novos membros nativos e também as autoridades da igreja católica que agradecem nossa presença; presenças significativas no meio do povo e nas  aldeias e comunidades urbanas. Senti uma Igreja em desenvolvimento, com renovado ardor, motivando nossas irmãs. Gestão preocupada com o futuro da Missão e o aumento de membros. Senti e vi com muitas emoções o testemunho de pessoas que conviveram com as irmãs nestes 30 anos. Testemunhos de partilha de vida nos momentos de ataques na época da guerra: atendimento e cuidado o que chamam de amor de mãe, transporte de doentes e mortos, segurança (esconderijo), acolhimento, saúde e alimento em tempos difíceis. Senti  e como senti a espiritualidade! O carisma da congregação perfumando as comunidades, e sendo vivenciado pelas irmãs e as jovens, momentos fortes de oração: Léctio Divina, adoração ao santíssimo, círculos  bíblicos etc.
CRESCIMENTO
Para  que esta Missão cresça em “Sabedoria, obras, membros e Graça”, precisamos Implementar o Intercâmbio na área de saúde e educação, levando a Angola-Luanda e Malange  pessoas para colaborar nesta Missão, que possam ir por ao menos seis meses para atuar na saúde, educação e formação das jovens vocacionadas e de formação inicial em todos as dimensões: física, psíquica, espiritual. Também para colaborar na formação de profissionais que trabalham em nossas Escolas e Posto de Saúde.
Portanto, faço aqui um apelo, A MISSÃO PRECISA DE VOCE, VENHA SER MISSIONÁRI@ em Angola, A MESSE É GRANDE E AS OPERÁRIAS MISSIONÁRIAS DE SANTA TERESINHA SÃO POUCAS!
Veja quantas crianças temos em nossas Escolas de Luanda e Malange! Essas crianças e esses educadores solicitam por nossa ajuda com  livros nas áreas de Educação e Saúde como: Claudino Piletti e Içami Tiba e Dicionários de saúde e outros livros de saúde. Acima de tudo, eles querem seus serviços, atitude,  palavras que comuniquem e e façam mudanças, ações que mudem e tragam um futuro melhor! Futuro que está sempre em construção!
Xinganeka kuma eme nga-kutokala, Mama ia kulenduka, Ngana ietu ia muhatu aiuê ngibake, ngizokele-le kala kima kié muene ( Kimbundo), quer dizer: “Lembrai-vos que vos pertenço, terna Mãe, Senhora Nossa Ah! Guardai-me e defendei-me como coisa própria”.

*Ir. Margarida Maria Pantoja da Silva – Religiosa da Congregação das Missionárias de Santa Teresinha. Sociologa – especialista em: Estudos Biblicos, Educação Social da Juventude e Gestão de RH.



Como falar de Deus?


PAPA BENTO XVIAUDIÊNCIA GERAL
Sala Paulo VI
Quarta-feira, 28 de Novembro de 2012


O Ano da Fé. Como falar de Deus?
Queridos irmãos e irmãs,
A interrogação central que hoje levantamos é a seguinte: como falar de Deus no nosso tempo?Como comunicar o Evangelho, para abrir caminhos à sua verdade salvífica nos corações muitas vezes fechados dos nossos contemporâneos e nas suas mentes por vezes distraídas pelas numerosas luzes da sociedade? O próprio Jesus, dizem-nos os evangelistas, ao anunciar o Reino de Deus, interrogou-se acerca disto: «A quem compararemos o Reino de Deus? Ou com que parábola o representaremos?» (Mc 4, 30). Como falar de Deus hoje? A primeira resposta é que nós podemos falar de Deus, porque Ele falou connosco. Portanto, a primeira condição para falar de Deus é a escuta daquilo que o próprio Deus disse. Deus falou connosco! Por conseguinte, Deus não é uma hipótese distante sobre a origem do mundo; não é uma inteligência matemática muito distante de nós. Deus interessa-se por nós, ama-nos, entrou pessoalmente na realidade da nossa história e comunicou-se a si mesmo a ponto de se encarnar. Portanto, Deus é uma realidade da nossa vida, é tão grande que tem tempo também para nós, preocupa-se connosco. Em Jesus de Nazaré nós encontramos o rosto de Deus, que desceu do seu Céu para se imergir no mundo dos homens, no nosso mundo, e para ensinar a «arte de viver», o caminho da felicidade; para nos libertar do pecado e para nos tornar filhos de Deus (cf. Ef 1, 5; Rm 8, 14). Jesus veio para nos salvar e para nos mostrar a vida boa do Evangelho.
Falar de Deus quer dizer, antes de tudo, ter bem claro o que devemos levar aos homens e às mulheres do nosso tempo: não um Deus abstracto, uma hipótese, mas um Deus concreto, um Deus que existe, que entrou na história e está presente na história; o Deus de Jesus Cristo como resposta à pergunta fundamental do porquê e do como viver. Por isso, falar de Deus exige uma familiaridade com Jesus e com o seu Evangelho, supõe um nosso conhecimento pessoal e real de Deus, e uma forte paixão pelo seu desígnio de salvação, sem ceder à tentação do sucesso, mas seguindo o método do próprio Deus. O método de Deus é o da humildade — Deus faz-se um de nós — é o método realizado na Encarnação na simples casa de Nazaré e na gruta de Belém, o da parábola do pequeno grão de mostarda. É preciso não temer a humildade dos pequenos passos e confiar no fermento que se mistura com a massa e que, lentamente, a faz crescer (cf. Mt 13, 33). Ao falar de Deus, na obra de evangelização, sob a guia do Espírito Santo, é necessária uma recuperação de simplicidade, um retorno ao essencial do anúncio: a Boa Notícia de um Deus que é real e concreto, um Deus que se interessa por nós, um Deus-Amor que se faz próximo de nós em Jesus Cristo até à Cruz, e que na Ressurreição nos doa a esperança e nos abre para uma vida que não tem fim, a vida eterna, a vida verdadeira. Aquele comunicador extraordinário que foi o apóstolo Paulo oferece-nos uma lição que vai precisamente ao cerne da fé, do problema de «como falar de Deus» com grande simplicidade. Na Primeira Carta aos Coríntios, ele escreve: «Também eu, quando fui ter convosco, irmãos, não fui com o prestígio da eloquência nem da sabedoria, anunciar-vos o testemunho de Deus. Julguei não dever saber coisa alguma entre vós, senão Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado» (2, 1-2). Portanto, a primeira realidade é que Paulo não fala de uma filosofia por ele desenvolvida, não fala de ideias que encontrou alhures ou que inventou, mas fala de uma realidade da sua vida, fala do Deus que entrou na sua vida, fala de um Deus real que vive, falou com Ele e falará connosco, fala do Cristo crucificado e ressuscitado. A segunda realidade é que Paulo não se procura a si mesmo, não quer criar para si um grupo de admiradores, não quer entrar na história como chefe de uma escola de grandes conhecimentos, não se procura a si mesmo, mas são Paulo anuncia Cristo e deseja conquistar as pessoas para o Deus verdadeiro e real. Paulo fala só com o desejo de anunciar aquilo que entrou na sua vida, e que é a vida autêntica, que o arrebatou no caminho de Damasco. Portanto, falar de Deus quer dizer reservar espaço Àquele que no-lo faz conhecer, que nos revela o seu rosto de amor; quer dizer expropriar o próprio eu, oferecendo-o a Cristo, na consciência de que não somos nós que podemos conquistar os outros para Deus, mas devemos esperá-los do próprio Deus, invocá-los dele. Portanto, falar de Deus nascer da escuta, do nosso conhecimento de Deus que se realiza na familiaridade com Ele, na vida da oração e segundo os Mandamentos.
Comunicar a fé, para são Paulo, não significa anunciar-se a si mesmo, mas dizer aberta e publicamente aquilo que viu e sentiu no encontro com Cristo, quanto experimentou na sua existência já transformada por aquele encontro: é anunciar aquele Jesus que sente presente em si e que se tornou a verdadeira orientação da sua vida, para levar todos a compreender que Ele é necessário para o mundo e é decisivo para a liberdade de cada homem. O apóstolo não se contenta com proclamar palavras, mas envolve toda a sua existência na grande obra da fé. Para falar de Deus, é necessário reservar-lhe espaço, na confiança de que é Ele quem age na nossa debilidade: reservar-lhe espaço sem medo, com simplicidade e alegria, na convicção profunda de que quanto mais O pusermos no centro, Ele e não nós, tanto mais a nossa comunicação será frutuosa. E isto é válido também para as comunidades cristãs: elas são chamadas a mostrar a acção transformadora da graça de Deus, superando individualismos, fechamentos, egoísmos, indiferenças e vivendo o amor Deus nos relacionamentos quotidianos. Perguntemo-nos se as nossas comunidades são verdadeiramente assim. Temos que agir, para nos tornarmos sempre e realmente assim, anunciadores de Cristo e não de nós mesmos.
Nesta altura, temos que nos interrogar como o próprio Jesus comunicava. Na sua unicidade, Jesus fala do seu Pai — Abbá — e do Reino de Deus, com o olhar cheio de compaixão pelas necessidades e dificuldades da existência humana. Fala com grande realismo e, diria, o essencial do anúncio de Jesus é que torna transparente o mundo e a nossa vida tem valor para Deus. Jesus demonstra que no mundo e na criação transparece o rosto de Deus e mostra-nos que Deus está presente nas histórias quotidianas da nossa vida. Quer nas parábolas da natureza, o grão de mostarda, o campo com diversas sementes, quer na nossa vida, pensamos na parábola do filho pródigo, de Lázaro e noutras parábolas de Jesus. Dos Evangelhos nós vemos como Jesus se interessa por cada situação humana que Ele encontra, se imerge na realidade dos homens e das mulheres do seu tempo, com uma confiança plena na ajuda do Pai. E que realmente nesta história, de modo escondido, Deus está presente e, se prestarmos atenção, podemos encontrá-lo. E os discípulos que vivem com Jesus, as multidões que O encontram, vêem a sua reacção aos problemas mais diversos, vêem como Ele fala, como se comporta; vêem nele a obra do Espírito Santo, a acção de Deus. Nele anúncio e vida entrelaçam-se: Jesus age e ensina, começando sempre a partir de uma relação íntima com Deus Pai. Este estilo torna-se uma indicação essencial para nós, cristãos: o nosso modo de viver na fé e na caridade torna-se um falar de Deus no presente, porque mostra com uma existência vivida em Cristo a credibilidade, o realismo daquilo que dizemos com palavras, que não são apenas palavras, mas demonstram a realidade, a realidade verdadeira. E nisto devemos estar atentos a captar os sinais dos tempos na nossa época, ou seja, a identificar as potencialidades, os desejos, os obstáculos que se encontram na cultura actual, de modo particular o desejo de autenticidade, o anseio pela transcendência, a sensibilidade pela salvaguarda da criação, e comunicar sem temor a resposta oferecida pela fé em Deus. O Ano da fé é ocasião para descobrir, com a fantasia animada pelo Espírito Santo, novos percursos a níveis pessoal e comunitário, a fim de que em cada lugar a força do Evangelho seja sabedoria de vida e orientação da existência.
Também no nosso tempo, um lugar privilegiado para falar de Deus é a família, a primeira escola para comunicar a fé às novas gerações. O Concílio Vaticano II fala dos pais como dos primeiros mensageiros de Deus (cf. Constituição dogmática Lumen gentium, 11; Decreto Apostolicam actuositatem, 11), chamados a redescobrir esta sua missão, assumindo a responsabilidade de educar, de abrir as consciências dos pequeninos ao amor de Deus, como um serviço fundamental à sua vida, de ser os primeiros catequistas e mestres da fé para os seus filhos. E nesta tarefa é importante antes de tudo a vigilância, que significa saber aproveitar as ocasiões favoráveis para introduzir na família o discurso de fé e para fazer amadurecer uma reflexão crítica em relação aos numerosos condicionamentos aos quais os filhos estão submetidos. Esta atenção dos pais é também sensibilidade de entender as possíveis interrogações religiosas presentes no espírito dos filhos, às vezes evidentes, outras, escondidas. Depois, a alegria: a comunicação da fé deve ter sempre uma tonalidade de alegria. É a alegria pascal, que não se cala, nem oculta a realidade da dor, do sofrimento, do cansaço, da dificuldade, da incompreensão e da própria morte, mas sabe oferecer os critérios para interpretar tudo na perspectiva da esperança cristã. A vida boa do Evangelho é precisamente este novo olhar, esta capacidade de ver cada situação com os olhos do próprio Deus. É importante ajudar todos os membros da família a compreender que a fé não é um peso, mas uma fonte de júbilo profundo, é entender a obra de Deus, reconhecer a presença do bem, que não faz ruído; e oferece orientações preciosas para viver bem a própria existência. Enfim, a capacidade de escuta e de diálogo: a família deve ser um ambiente em que as pessoas aprendem a estar juntas, a recompor os contrastes no diálogo recíproco, que é feito de escuta e de palavra, a compreender-se e a amar-se, para ser um sinal mútuo do amor misericordioso de Deus.
Portanto, falar de Deus quer dizer fazer compreender com a palavra e com a vida que Deus não é o concorrente da nossa existência, mas sobretudo o seu verdadeiro garante, o protector da grandeza da pessoa humana. Assim voltamos ao início: falar de Deus é comunicar, com força e simplicidade, com a palavra e a vida, aquilo que é essencial: o Deus de Jesus Cristo, aquele Deus que nos mostrou um amor tão grande, a ponto de se encarnar, morrer e ressuscitar por nós; aquele Deus que pede para O seguir e para se deixar transformar pelo seu amor imenso, para renovar a nossa vida e os nossos relacionamentos; aquele Deus que nos concedeu a Igreja, para caminharmos juntos e, através da Palavra e dos Sacramentos, renovarmos toda a Cidade dos homens, a fim de que ela possa tornar-se Cidade de Deus.



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