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terça-feira, 19 de agosto de 2014

História de uma alma




       Eis por que sempre vos recordarei essas coisas, embora as conheçais e estejais firmes na verdade que já vos foi apresentada. Sim, creio ser meu dever, enquanto habitar nesta tenda, despertar vossa memória. Estou certo de que em breve será desarmada esta minha tenda, conforme nosso Senhor Jesus Cristo me tem manifestado. Por isso, eu me empenharei para que, depois da minha partida, vos recordeis destas coisas.
                                                                     (2 Carta de Pedro 1,12-15)

         A vós, Madre querida, vós que sois duas vezes minha mãe, venho confiar a história de minha alma... No dia em que me mandastes fazê-lo, pareceu-me que isso dissiparia meu coração ao ocupá-lo com ele mesmo, mas depois Jesus me fez sentir que ao obedecer simplesmente eu lhe seria agradável. Aliás, não vou fazer ser não uma única coisa: começar a cantar o que hei de repetir eternamente - "As misericórdias do Senhor!" (Sl 88,2).
         Antes de tomar a pena, ajoelhei-me diante da estátua de Maria, supliquei-lhe para guiar a minha mão, a fim de que eu não escreva nenhuma linha que não lhe seja agradável. (Santa Teresinha)
   Fonte: Cinco minutos com Deus e Santa Teresinha - Luzia Sena - edições Paulinas 

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

MUNIFICENTISSIMUS DEUS - DEFINIÇÃO DO DOGMA DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA







CONSTITUIÇÃO APOSTÓLICA DO PAPA PIO XII
MUNIFICENTISSIMUS DEUS
DEFINIÇÃO DO DOGMA DA ASSUNÇÃO 
DE NOSSA SENHORA
 EM CORPO E ALMA AO CÉU

  
Introdução 
1. Deus munificentíssimo, que tudo pode, e cujos planos de providência são cheios de sabedoria e de amor, nos seus imperscrutáveis desígnios, entremeia na vida os povos e dos indivíduos as dores com as alegrias, para que por diversos caminhos e de várias maneiras tudo coopere para o bem dos que o amam (cf. Rm 8,28).
2. o nosso pontificado, assim como os tempos atuais, tem sido assediado por inúmeros cuidados, preocupações e angústias, devido às grandes calamidades e por muitos que andam afastados da verdade e da virtude. Mas é para nós de grande conforto ver como, à medida que a fé católica se manifesta publicamente cada vez mais ativa, aumenta também cada dia o amor e a devoção para com a Mãe de Deus, e quase por toda parte isso é estímulo e auspício de uma vida melhor e mais santa. E assim sucede que, por um lado, a santíssima Virgem desempenha amorosamente a sua missão de mãe para com os que foram remidos pelo sangue de Cristo, e por outro, as inteligências e os corações dos filhos são estimulados a uma mais profunda e diligente contemplação dos seus privilégios.
3. De fato, Deus, que desde toda a eternidade olhou para a virgem Maria com particular e pleníssima complacência, quando chegou a plenitude dos tempos (Gl 4,4) atuou o plano da sua providência de forma que refulgissem com perfeitíssima harmonia os privilégios e prerrogativas que lhe concedera com sua liberalidade. A Igreja sempre reconheceu esta grande liberalidade e a perfeita harmonia de graças, e durante o decurso dos séculos sempre procurou estudá-la melhor. Nestes nossos tempos refulgiu com luz mais clara o privilégio da assunção corpórea da Mãe de Deus.
4. Esse privilégio brilhou com novo fulgor quando o nosso predecessor de imortal memória, Pio IX, definiu solenemente o dogma da Imaculada Conceição. De fato esses dois dogmas estão estreitamente conexos entre si. Cristo com a própria morte venceu a morte e o pecado, e todo aquele que pelo batismo de novo é gerado, sobrenaturalmente, pela graça, vence também o pecado e a morte. Porém Deus, por lei ordinária, só concederá aos justos o pleno efeito desta vitória sobre a morte, quando chegar o fim dos tempos. Por esse motivo, os corpos dos justos corrompem-se depois da morte, e só no último dia se juntarão com a própria alma gloriosa.
5. Mas Deus quis excetuar dessa lei geral a bem-aventurada virgem Maria. Por um privilégio inteiramente singular ela venceu o pecado com a sua concepção imaculada; e por esse motivo não foi sujeita à lei de permanecer na corrupção do sepulcro, nem teve de esperar a redenção do corpo até ao fim dos tempos.
6. Quando se definiu solenemente que a virgem Maria, Mãe de Deus, foi imune desde a sua concepção de toda a mancha, logo os corações dos fiéis conceberam uma mais viva esperança de que em breve o supremo magistério da Igreja definiria também o dogma da assunção corpórea da virgem Maria ao céu.
Petições para a definição dogmática
7. De fato, sucedeu que não só os simples fiéis, mas até aqueles que, em certo modo, personificam as nações ou as províncias eclesiásticas, e mesmo não poucos Padres do concílio Vaticano pediram instantemente à Sé Apostólica esta definição.
8. Com o decurso do tempo essas petições e votos não diminuíram, antes foram aumentando de dia para dia em número e insistência. Com esse fim fizeram-se cruzadas de orações; muitos e exímios teólogos intensificaram com ardor os seus estudos sobre este ponto, quer em privado, quer nas universidades eclesiásticas ou nas outras escolas de disciplinas sagradas; celebraram-se em muitas partes congressos marianos nacionais e internacionais. Todos esses estudos e investigações mostraram com maior realce que no depósito da fé cristã, confiado à Igreja, tatmbém se encontrava a assunção da virgem Maria ao céu. E de ordinário a conseqüência foi enviarem súplicas em que se pedia instantemente a definição solene desta verdade.
9. Acompanhavam os fiéis nessa piedosa insistência os seus sagrados pastores, os quais dirigiram a esta cadeira de S. Pedro semelhantes petições em número muito considerável. Quando fomos elevado ao sumo pontificado, já tinham sido apresentadas a esta Sé Apostólica muitos milhares dessas súplicas, vindas de todas as partes do mundo e de todas as classes de pessoas: dos nossos amados filhos cardeais do Sacro Colégio, dos nossos veneráveis irmãos arcebispos e bispos, das dioceses e das paróquias.
10. Por esse motivo, ao mesmo tempo que dirigíamos a Deus intensas súplicas, para que concedesse à nossa mente a luz do Espírito Santo para decidirmos tão importante causa, estabelecemos normas especiais em que determinamos que se procedesse com todo o cuidado a um estudo mais rigoroso da matéria, e se reunissem e examinassem todas as petições relativas à assunção da santíssima virgem, enviadas à Sé Apostólica desde o tempo do nosso predecessor de feliz memória, Pio IX, até ao presente.(1)
Consulta ao episcopado
11. Mas como se tratava de assunto de tanta importância e transcendência, julgamos oportuno rogar direta e oficialmente a todos os nossos veneráveis irmãos no episcopado, que nos quisessem manifestar explicitamente a sua opinião. Para tal fim, no dia 1° de maio de 1946, dirigimos-lhes a carta encíclica "Deiparae Virginis Mariae" em que fazíamos esta pergunta: "Se vós, veneráveis irmãos, na vossa exímia sabedoria e prudência, julgais que a assunção corpórea da santíssima Virgem pode ser proposta e definida como dogma de fé, e se desejais que o seja, tanto vós como o vosso clero e fiéis".
Doutrina concorde do magistério da Igreja
12. E aqueles que "o Espírito Santo colocou como bispos para reger a Igreja de Deus" (At 20, 28) quase unanimemente deram resposta afirmativa a ambas as perguntas. Essa "singular concordância dos bispos e fiéis" (2) em julgar que a assunção corpórea ao céu da Mãe de Deus podia ser definida como dogma de fé, mostra-nos a doutrina concorde do magistério ordinário da Igreja, e a fé igualmente concorde do povo cristão - que aquele magistério sustenta e dirige - e por isso mesmo manifesta, de modo certo e imune de erro, que tal privilégio é verdade revelada por Deus e contida no depósito divino que Jesus Cristo confiou a sua esposa para o guardar fielmente e infalivelmente o declarar. (3) De fato, esse magistério da Igreja, não por estudo meramente humano, mas pela assistência do Espírito de verdade (cf. Jo 14,26), e portanto absolutamente sem nenhum erro, desempenha a missão que lhe foi confiada de conservar sempre puras e íntegras as verdades reveladas; e pelo mesmo motivo transmite-as sem contaminação e sem lhes ajuntar nem subtrair nada. "Pois - como ensina o concílio Vaticano - o Espírito Santo foi prometido aos sucessores de Pedro não para que, por sua revelação, expressem doutrinas novas, mas para que, com sua assistência, guardassem com cuidado e expusessem fielmente a revelação transmitida pelos apóstolos, ou seja o depósito da fé". (4) Por essa razão, do consenso universal do magistério da Igreja, deduz-se um argumento certo e seguro para demonstrar a assunção corpórea da bem-aventurada virgem Maria. Esse mistério, pelo que respeita à glorificação celestial do corpo da augusta Mãe de Deus, não podia ser conhecido por nenhuma faculdade da inteligência humana só com as forças naturais. É, portanto, verdade revelada por Deus, e por essa razão todos os filhos da Igreja têm obrigação de a crer firme e fielmente. Pois, como afirma o mesmo concílio Vaticano, "temos obrigação de crer com fé divina e católica, todas as coisas que se contêm na palavra de Deus escrita ou transmitida oralmente, e que a Igreja, com solene definição ou com o seu magistério ordinário e universal, nos propõe para crer, como reveladas por Deus".(5)
Testemunhos da crença na assunção
13. Desde tempos remotíssimos, pelo decurso dos séculos, aparecem-nos testemunhos, indícios e vestígios desta fé comum da Igreja; fé que se manifesta cada vez mais claramente.
14. Os fiéis, guiados e instruídos pelos pastores, souberam por meio da Sagrada Escritura que a virgem Maria, durante a sua peregrinação terrestre, levou vida cheia de cuidados, angústias e sofrimentos; e que, segundo a profecia do santo velho Simeão, uma espada de dor lhe traspassou o coração, junto da cruz do seu divino Filho e nosso Redentor. E do mesmo modo, não tiveram dificuldade em admitir que, à semelhança do seu unigênito Filho, também a excelsa Mãe de Deus morreu. Mas essa persuasão não os impediu de crer expressa e firmemente que o seu sagrado corpo não sofreu a corrupção do sepulcro, nem foi reduzido à podridão e cinzas aquele tabernáculo do Verbo divino. Pelo contrário, os fiéis iluminados pela graça e abrasados de amor para com aquela que é Mãe de Deus e nossa Mãe dulcíssima, compreenderam cada vez com maior clareza a maravilhosa harmonia existente entre os privilégios concedidos por Deus àquela que o mesmo Deus quis associar ao nosso Redentor. Esses privilégios elevaram-na a uma altura tão grande, que não foi atingida por nenhum ser criado, excetuada somente a natureza humana de Cristo.
15. Patenteiam inequivocamente esta mesma fé os inumeráveis templos consagrados a Deus em honra da assunção de nossa Senhora, e as imagens neles expostas à veneração dos fiéis, que mostram aos olhos de todos este singular triunfo da santíssima Virgem. Muitas cidades, dioceses e regiões foram consagradas ao especial patrocínio e proteção da assunção da Mãe de Deus. Do mesmo modo, com aprovação da Igreja, fundaram-se Institutos religiosos com o nome deste privilégio. Nem se deve passar em silêncio que no rosário de nossa Senhora, cuja reza tanto recomenda esta Sé Apostólica, há um mistério proposto à nossa meditação, que, como todos sabem, é consagrado à assunção da santíssima Virgem ao céu. 
Testemunho da liturgia
16. De modo ainda mais universal e esplendoroso se manifesta esta fé dos pastores e dos fiéis, com a festa litúrgica da assunção celebrada desde tempos antiquíssimos no Oriente e no Ocidente. Nunca os santos padres e doutores da Igreja deixaram de haurir luz nesta solenidade, pois, como todos sabem, a sagrada liturgia, "sendo também profissão das verdades católicas, e estando sujeita ao supremo magistério da Igreja, pode fornecer argumentos e testemunhos de não pequeno valor para determinar algum ponto da doutrina cristã".(6)
17. Nos livros litúrgicos em que aparece a festa da Dormição ou da Assunção de santa Maria, encontram-se expressões que de uma ou outra maneira concordam em referir que, quando a virgem Mãe de Deus passou deste exílio para o céu, por uma especial providência divina, sucedeu ao seu corpo algo de consentâneo com a dignidade de Mãe do Verbo encarnado e com os outros privilégios que lhe foram concedidos. É o que se afirma, para apresentarmos um exemplo elucidativo, no Sacramentário enviado pelo nosso predecessor de imortal memória Adriano I, ao imperador Carlos Magno. Nele se diz: "É digna de veneração, Senhor, a festividade deste dia, em que a santa Mãe de Deus sofreu a morte temporal; mas não pode ficar presa com as algemas da morte aquela que gerou no seu seio o Verbo de Deus encarnado, vosso Filho, nosso Senhor".(7)
18. Aquilo que aqui se refere com a sobriedade de palavras costumeiras na Liturgia romana, exprime-se mais difusamente nos outros livros das antigas liturgias orientais e ocidentais. OSacramentário Galicano, por exemplo, chama a esse privilégio de Maria, "inexplicável mistério, tanto mais digno de ser proclamado, quanto é único entre os homens, pela assunção da virgem". E na liturgia bizantina a assunção corporal da virgem Maria é relacionada diversas vezes não só com a dignidade de Mãe de Deus, mas também com os outros privilégios, especialmente com a sua maternidade virginal, decretada por um singular desígnio da Providência divina: "Deus, Rei do universo, concedeu-vos privilégios que superam a natureza; assim como no parto vos conservou a virgindade, assim no sepulcro vos preservou o corpo da corrupção e o conglorificou pela divina translação".(8)
A festa da Assunção
19. A Sé Apostólica, herdeira do múnus confiado ao Príncipe dos apóstolos de confirmar na fé os irmãos (cf. Lc 22,32), com sua autoridade foi tornando cada vez mais solene esta celebração. Esse fato estimulou eficazmente os fiéis a irem-se apercebendo mais e mais da importância deste mistério. E assim, a festa da assunção, que ao princípio tinha o mesmo grau de solenidade que as restantes festas marianas, foi elevada ao rito das festas mais solenes do ciclo litúrgico. O nosso predecessor S. Sérgio I, ao prescrever as ladainhas, ou a chamada procissão estacional, nas festas de nossa Senhora, enumera simultaneamente a Natividade, a Anunciação, a Purificação e a Dormição.(9) A festa já se celebrava com o nome de assunção da bem-aventurada Mãe de Deus, no tempo de S. Leão IV Esse papa procurou que se revestisse de maior esplendor, mandando ajuntar-lhe a vigília e a oitava. E o próprio pontífice quis participar nessas solenidades, acompanhado de imensa multidão. (10) Na vigília já de há muito se guardava o jejum, como se prova com evidência do que afirma o nosso predecessor S. Nicolau I, ao tratar dos principais jejuns "que... desde os tempos antigos observava e ainda observa a santa Igreja romana".(11)
20. A Liturgia da Igreja não cria a fé católica, mas supõe-na; e é dessa fé que brotam os ritos sagrados, como da árvore os frutos. Por isso os santos Padres e doutores nas homilias e sermões que nesse dia fizeram ao povo, não foram buscar essa doutrina à liturgia, como a fonte primária; mas falaram dela aos fiéis como de coisa sabida e admitida por todos. Declararam-na melhor, explicaram o seu significado e o fato com razões mais profundas, destacando e amplificando aquilo a que muitas vezes os livros litúrgicos apenas aludiam em poucas palavras, a saber, que com esta festa não se comemora somente a incorrupção do corpo morto da santíssima Virgem, mas principalmente o triunfo por ela alcançado sobre a morte e a sua celeste glorificação à semelhança do seu Filho unigênito, Jesus Cristo.
Testemunho dos santos Padres
21. S. João Damasceno, que entre todos se distingue como pregoeiro dessa tradição, ao comparar a assunção gloriosa da Mãe de Deus com as suas outras prerrogativas e privilégios, exclama com veemente eloqüência: "Convinha que aquela que no parto manteve ilibada virgindade conservasse o corpo incorrupto mesmo depois da morte. Convinha que aquela que trouxe no seio o Criador encarnado, habitasse entre os divinos tabernáculos. Convinha que morasse no tálamo celestial aquela que o Eterno Pai desposara. Convinha que aquela que viu o seu Filho na cruz, com o coração traspassado por uma espada de dor de que tinha sido imune no parto, contemplasse assentada à direita do Pai. Convinha que a Mãe de Deus possuísse o que era do Filho, e que fosse venerada por todas as criaturas como Mãe e Serva do mesmo Deus".(12)
22. Condizem com essas palavras de s. João Damasceno as de muitos outros que afirmam a mesma doutrina. E não são menos expressivas, nem menos exatas, as palavras que se encontram nos sermões proferidos pelos santos Padres mais antigos ou da mesma época, ordinariamente por ocasião dessa festividade. Assim, para citar outro exemplo, s. Germano de Constantinopla julgava que a incorrupção do corpo da virgem Maria Mãe de Deus, e a sua assunção ao céu são corolários não só da sua maternidade divina, mas até da santidade singular daquele corpo virginal: "Vós, como está escrito, aparecestes 'em beleza'; o vosso corpo virginal é totalmente santo, totalmente casto, totalmente domicílio de Deus de forma que até por este motivo foi isento de desfazer-se em pó; foi, sim, transformado, enquanto era humano, para viver a vida altíssima da incorruptibilidade; mas agora está vivo, gloriosíssimo, incólume e participante da vida perfeita".(13) Outro escritor antiquíssimo assevera por sua vez: "A gloriosíssima Mãe de Cristo, Deus e Salvador nosso, dador da vida e da imortalidade, foi glorificada e revestida do corpo na eterna incorruptibilidade, por aquele mesmo que a ressuscitou do sepulcro e a chamou a si duma forma que só ele sabe".(14)
23. À medida que a festa litúrgica se foi espalhando, e celebrando mais devotamente, maior foi o número de bispos e oradores sagrados que julgaram de seu dever explicar com toda a clareza o mistério que se venerava nesta solenidade e mostrar como ela estava intimamente relacionada com as outras verdades reveladas.
Testemunho dos teólogos
24. Entre os teólogos escolásticos, não faltaram alguns, que, pretendendo penetrar mais profundamente nas verdades reveladas, e mostrar o acordo entre a chamada razão teológica e a fé católica, notaram a estreita conexão existente entre este privilégio da assunção da santíssima Virgem e as demais verdades contidas na Sagrada Escritura.
25. Partindo desse pressuposto, apresentam diversas razões para corroborar esse privilégio mariano. A razão primária e fundamental diziam ser o amor filial de Cristo para o levar a querer a assunção de sua Mãe ao céu. E advertiam mais, que a força dos argumentos se baseava na incomparável dignidade da sua maternidade divina e em todas as graças que dela derivam: a santidade altíssima que excede a santidade de todos os homens e anjos, a íntima união de Maria com o seu Filho, e sobretudo o amor que o Filho consagrava a sua Mãe digníssima.
26. Muitas vezes os teólogos e oradores sagrados, seguindo os passos dos santos Padres,(15) para explicarem a sua fé na assunção, serviram-se com certa liberdade de fatos e textos da Sagrada Escritura. E assim, para mencionar só alguns mais empregados, houve quem citasse a este propósito as palavras do Salmista: "Erguei-vos, Senhor, para o vosso repouso, vós e a Arca de vossa santificação" (Sl 131, 8); e na Arca da Aliança, feita de madeira incorruptível e colocada no templo de Deus, viam como que uma imagem do corpo puríssimo da virgem Maria, preservado da corrupção do sepulcro, e elevado a tamanha glória no céu. Do mesmo modo, ao tratar desta matéria, descrevem a entrada triunfal da Rainha na corte celeste, e como se vai sentar a direita do divino Redentor (Sl 44,10.14-16); e recordam a propósito a esposa dos Cantares "que sobe pelo deserto, como uma coluna de mirra e de incenso" para ser coroada (Ct 3,6; cf. 4,8; 6,9). Ambas são propostas como imagens daquela Rainha e Esposa celestial, que sobe ao céu com o seu divino Esposo.
27. Os doutores escolásticos vislumbram igualmente a assunção da Mãe de Deus não só em várias figuras do Antigo Testamento, mas também naquela mulher, revestida de sol, que o apóstolo s. João contemplou na ilha de Patmos (Ap 12, ls.). Porém, entre os textos do Novo Testamento, consideraram e examinaram com particular cuidado aquelas palavras: "Ave, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres" (Lc 1,28), pois viram no mistério da assunção o complemento daquela plenitude de graça, concedida à santíssima Virgem, e uma singular bênção contraposta à maldição de Eva. 
Na teologia escolástica
28. Por esse motivo, nos primórdios da teologia escolástica, o piedosíssimo varão Amadeu, bispo de Lausana, afirmava que a carne da virgem Maria permaneceu incorrupta - nem se pode crer que o seu corpo padecesse a corrupção -, porque se uniu de novo à alma, e juntamente com ela penetrou na corte celestial. "Pois ela era cheia de graça e bendita entre as mulheres (Lc 1,28). Só ela mereceu conceber o Deus verdadeiro do Deus verdadeiro, e sendo virgem deu-o à luz, amamentou-o, trouxe-o no regaço, e prestou-lhe todos os cuidados maternos".(16)
29. Entre os escritores sagrados que naquele tempo com vários textos, comparações e analogias tiradas das divinas Letras, ilustraram e confirmaram a doutrina da assunção em que piamente acreditavam, ocupa lugar primordial o doutor evangélico s. Antônio de Pádua. Na festa da assunção, ao comentar aquelas palavras de Isaías: "glorificarei o lugar dos meus pés" (Is 60,13), afirmou com segurança que o divino Redentor glorificou de modo mais perfeito a sua Mãe amantíssima, da qual tomara carne humana. "Daqui, vê-se claramente", diz, "que o corpo da santíssima Virgem foi assunto ao céu, pois era o lugar dos pés do Senhor". Pelo que, escreve o Salmista: "Erguei-vos, Senhor, para o vosso repouso, vós e a Arca da vossa santificação". E assim como, acrescenta ainda, Jesus Cristo ressuscitou triunfante da morte e subiu para a direita do Pai, assim também "ressuscitou a Arca da sua santificação, quando neste dia a virgem Mãe foi assunta ao tálamo celestial".(17)
No período áureo
30. Quando, na Idade Média, a teologia escolástica atingiu o maior esplendor, s. Alberto Magno, para demonstrar essa verdade, apresenta vários argumentos fundados na Sagrada Escritura, na tradição, na liturgia e em razões teológicas, e conclui: "Por estas e outras muitas razões e autoridades, é evidente que a bem-aventurada Mãe de Deus foi assunta ao céu em corpo e alma sobre os coros dos anjos. E cremos que isto é absolutamente verdadeiro".(18) E num sermão pregado em dia da Anunciação de nossa Senhora, ao explicar aquelas palavras do anjo: "Ave, cheia de graça...", o doutor universal compara a santíssima Virgem com Eva, e afirma clara e terminantemente que Maria foi livre das quatro maldições que caíram sobre Eva.(19)
31. O Doutor Angélico, seguindo as pisadas do mestre, ainda que nunca trate expressamente do assunto, no entanto sempre que se oferece a ocasião fala dele, e com a Igreja católica afirma que o corpo de Maria juntamente com a alma foi levado ao céu.(20)
32. É da mesma opinião, entre outros muitos, o Doutor Seráfico, o qual tem como certo que, assim como Deus preservou Maria santíssima da violação do pudor e da integridade virginal ao conceber e dar à luz o seu Filho, assim não permitiu que o seu corpo se desfizesse em podridão e cinzas.(21) Aplica a santíssima Virgem, em sentido acomodatício, aquelas palavras da Sagrada Escritura: "Quem é esta que sobe do deserto, cheia de gozo, e apoiada no seu amado?" (Ct 8,5), e raciocina desta forma: "Daqui pode concluir-se que ela está ali corporalmente (na glória celeste)... Porque... a sua felicidade não seria plena se ali não estivesse em pessoa; ora a pessoa não é só a alma, mas o composto; logo é claro que está ali segundo o composto, isto é, em corpo e alma; de outro modo não gozaria de felicidade plena".(22)
Na escolástica posterior
33. Na escolástica posterior, ou seja no século XV, são Bernardino de Sena, resumindo e ponderando cuidadosamente tudo quanto os teólogos medievais tinham escrito a esse propósito, não julgou suficiente referir as principais considerações que os antigos doutores tinham proposto, mas acrescentou outras novas. Por exemplo, a semelhança entre a divina Mãe e o divino Filho, no que respeita à perfeição e dignidade de alma e corpo - semelhança que nem sequer nos permite pensar que a Rainha celestial possa estar separada do Rei dos céus - exige absolutamente que Maria "só deva estar onde está Cristo".(23) Portanto, é muito conveniente e conforme à razão que tanto o corpo como a alma do homem e da mulher tenham alcançado já a glória no céu; e, finalmente, o fato de nunca a Igreja ter procurado as relíquias da santíssima Virgem, nem as ter exposto à veneração dos fiéis, constitui um argumento que é "como que uma experiência sensível" da assunção.(24)
Nos tempos modernos
34. Em tempos mais recentes, as razões dos santos Padres e doutores, acima aduzidas, foram usadas comumente. Seguindo o comum sentir dos cristãos, recebido dos tempos antigos s. Roberto Belarmino exclamava: "Quem há, pergunto, que possa pensar que a arca da santidade, o domicílio do Verbo, o templo do Espírito Santo tenha caído em ruínas? Horroriza-se o espírito só com pensar que aquela carne que gerou, deu a luz, alimentou e transportou a Deus, se tivesse convertido em cinza ou fosse alimento dos vermes".(25)
35. De igual forma s. Francisco de Sales afirma que não se pode duvidar que Jesus Cristo cumpriu do modo mais perfeito o divino mandamento que obriga os filhos a honrar os pais. E a seguir faz esta pergunta: "Que filho haveria, que, se pudesse, não ressuscitava a sua mãe e não a levava para o céu?"(26) E s. Afonso escreve por sua vez: "Jesus não quis que o corpo de Maria se corrompesse depois da morte, pois redundaria em seu desdouro que se transformasse em podridão aquela carne virginal de que ele mesmo tomara a própria carne".(27)
36. Quando já tinha aparecido em toda a sua luz o mistério que se celebra nesta festa, não faltaram doutores que, em vez de tratar das razões teológicas pelas quais se demonstrasse a absoluta conveniência de crença na assunção corpórea da Virgem santíssima, voltaram o pensamento para a fé da Igreja, mística esposa de Cristo, sem mancha nem ruga (cf. Ef 5,27), que o Apóstolo chama "coluna e sustentáculo da verdade" ( 1Tm 3,15). E apoiados nesta fé comum pensaram que seria temerária, para não dizer herética, a opinião contrária. S. Pedro Canísio, como outros muitos, depois de declarar que o termo assunção se referia à glorificação não só da alma mas também do corpo, e que a Igreja há muitos séculos venerava e celebrava solenemente este mistério mariano, observa: "Esta opinião é admitida há vários séculos e tão impressa na alma dos fiéis, é tão recomendada pela Igreja, que quem negasse a assunção ao céu do corpo de Maria santíssima nem sequer seria ouvido com paciência, mas seria vaiado como pertinaz, ou mesmo temerário, e imbuído mais de espírito herético do que católico".(28)
37. Pela mesma época, o Doutor Exímio estabelecia esta regra para a mariologia: "Os mistérios da graça que Deus operou na virgem Maria não se devem medir pelas leis ordinárias, senão pela onipotência divina, suposta a conveniência do fato e a não contradição ou repugnância com as Escrituras".(29) E apoiado na fé de toda a Igreja, podia concluir que o mistério da assunção devia crer-se com a mesma firmeza que o da imaculada conceição, e já então julgava que ambas as verdades podiam ser definidas. 
Fundamento escriturístico
38. Todos esses argumentos e razões dos santos Padres e teólogos apóiam-se, em último fundamento, na Sagrada Escritura. Esta nos apresenta a Mãe de Deus extremamente unida ao seu Filho, e sempre participante da sua sorte. Pelo que parece quase que impossível contemplar aquela que concebeu, deu à luz, alimentou com o seu leite, a Cristo, e o teve nos braços e apertou contra o peito, estivesse agora, depois da vida terrestre, separada dele, se não quanto à alma, ao menos quanto ao corpo. O nosso Redentor é também filho de Maria; e como observador perfeitíssimo da lei divina não podia deixar de honrar a sua Mãe amantíssima logo depois do Eterno Pai. E podendo ele adorná-la com tamanha honra, preservando-a da corrupção do sepulcro, deve crer-se que realmente o fez.
39. E convém sobretudo ter em vista que, já a partir do século II, os santos Padres apresentam a virgem Maria como nova Eva, sujeita sim, mas intimamente unida ao novo Adão na luta contra o inimigo infernal. E essa luta, como já se indicava no Protoevangelho, acabaria com a vitória completa sobre o pecado e sobre a morte, que sempre se encontram unidas nos escritos do apóstolo das gentes (cf. Rm 5; 6; lCor 15,21-26; 54-57). Assim como a ressurreição gloriosa de Cristo constituiu parte essencial e último troféu desta vitória, assim também a vitória de Maria santíssima, comum com a do seu Filho, devia terminar pela glorificação do seu corpo virginal. Pois, como diz ainda o apóstolo, "quando... este corpo mortal se revestir da imortalidade, então se cumprirá o que está escrito: a morte foi absorvida na vitória" (1Cor 15,14).
40. Deste modo, a augustíssima Mãe de Deus, associada a Jesus Cristo de modo insondável desde toda a eternidade "com um único decreto" (30) de predestinação, imaculada na sua concepção, sempre virgem, na sua maternidade divina, generosa companheira do divino Redentor que obteve triunfo completo sobre o pecado e suas conseqüências, alcançou por fim, como suprema coroa dos seus privilégios, que fosse preservada da corrupção do sepulcro, e que, à semelhança do seu divino Filho, vencida a morte, fosse levada em corpo e alma ao céu, onde refulge como Rainha à direita do seu Filho, Rei imortal dos séculos (cf. 1Tm 1,17).
Oportunidade da definição
41. Considerando que a Igreja universal - que é assistida pelo Espírito de verdade, que a dirige infalivelmente para o conhecimento das verdades reveladas - no decurso dos séculos manifestou de tantas formas a sua fé; considerando que os bispos de todo o mundo quase unanimemente pedem que seja definida como dogma de fé divina e católica a verdade da assunção corpórea da santíssima Virgem ao céu; considerando que esta verdade se funda na Sagrada Escritura, está profundamente gravada na alma dos fiéis, e desde tempos antiquíssimos é comprovada pelo culto litúrgico, e concorda, inteiramente, com as outras verdades reveladas, e tem sido esplendidamente explicada e declarada pelos estudos, sabedoria e prudência dos teólogos - julgamos chegado o momento estabelecido pela providência de Deus, para proclamarmos solenemente este privilégio insigne da virgem Maria. (42). Nós, que colocamos o nosso pontificado sob o especial patrocínio da santíssima Virgem, à qual recorremos em tantas circunstâncias tristes, nós, que consagramos publicamente todo o gênero humano ao seu imaculado Coração, e que experimentamos muitas vezes o seu poderoso patrocínio, confiamos firmemente que esta solene proclamação e definição será de grande proveito para a humanidade inteira, porque reverte em glória da Santíssima Trindade, a qual a virgem Mãe de Deus está ligada com laços muito especiais. É de esperar também que todos os fiéis cresçam em amor para com a Mãe celeste, e que os corações de todos os que se gloriam do nome de cristãos se movam a desejar a união com o corpo místico de Jesus Cristo, e que aumentem no amor para com aquela que tem amor de Mãe para com os membros do mesmo augusto corpo. E também é lícito esperar que, ao meditarem nos exemplos gloriosos de Maria, mais e mais se persuadam todos do valor da vida humana, se for consagrada ao cumprimento integral da vontade do Pai celeste e a procurar o bem do próximo. Enquanto o materialismo e a corrupção de costumes que dele se origina ameaçam subverter a luz da virtude, e destruir vidas humanas, suscitando guerras, é de esperar ainda que este luminoso e incomparável exemplo, posto diante dos olhos de todos, mostre com plena luz qual o fim a que se destinam a nossa alma e o nosso corpo. E, finalmente, esperamos que a fé na assunção corpórea de Maria ao céu torne mais firme e operativa a fé na nossa própria ressurreição.
43. E é para nós motivo de imenso regozijo que este fato, por providência de Deus, se realize neste Ano santo que está a decorrer, e que assim possamos, enquanto se celebra este jubileu maior, adornar com esta pedra preciosa a fronte da Virgem santíssima, e deixar um monumento, mais perene que o bronze, da nossa ardente devoção para com a Mãe de Deus.
Definição solene do dogma
44. "Pelo que, depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de termos invocado a paz do Espírito de verdade, para glória de Deus onipotente que à virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da sua augusta mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos s. Pedro e s. Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial".
45. Pelo que, se alguém, o que Deus não permita, ousar, voluntariamente, negar ou pôr em dúvida esta nossa definição, saiba que naufraga na fé divina e católica.
46. Para que chegue ao conhecimento de toda a Igreja esta nossa definição da assunção corpórea da virgem Maria ao céu, queremos que se conservem esta carta para perpétua memória; mandamos também que, aos seus transuntos ou cópias, mesmo impressas, desde que sejam subscritas pela mão de algum notário público, e munidas com o selo de alguma pessoa constituída em dignidade eclesiástica, se lhes dê o mesmo crédito que à presente, se fosse apresentada e mostrada.
47. A ninguém, pois, seja lícito infringir esta nossa declaração, proclamação e definição, ou temerariamente opor-se-lhe e contrariá-la. Se alguém presumir intentá-lo, saiba que incorre na indignação de Deus onipotente e dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo.

Dado em Roma, junto de São Pedro, no ano do jubileu maior, de 1950, no dia 1 ° de novembro, festa de todos os santos, no ano XII do nosso pontificado.

Eu PIO, Bispo da Igreja Católica assim definindo, subscrevi.


FONTE: www.vatican.va 

Frase de São Maximiliano Kolbe


São Maximiliano Maria Kolbe



   Um santo para nossos dias: utilizando os progressos técnicos a serviço da Fé, montou um portentoso apostolado pela imprensa para difundir a devoção a Maria. E ainda
Morreu mártir da caridade, como sempre desejou
    Sobre a trágica morte de São Maximiliano Kolbe no campo de extermínio de Auschwitz, muito se sabe e se comenta. Menos conhecida, entretanto, é sua existência cheia de inteligentes e ousados empreendimentos apostólicos, fruto de um espírito de grandes horizontes iluminado por entranhada devoção à Virgem Santíssima.
  Talis vita, finis ita,1 diz um conhecido adágio romano. Se Maximiliano teve, no fim da sua existência, o heroico gesto que o conduziria ao martírio, foi porque Maria Imaculada o inspirou. E ele soube corresponder inteiramente, já desde menino, a tão bela e elevada vocação.
Nascido na era do progresso
   A Polônia dos anos finais do século XIX e iniciais do XX, como toda a Europa e a América, achava-se em plena prosperidade material. A sociedade de então se deliciava na euforia e no esplendor da Belle Époque, na fartura e no conforto, mais preocupada com o gozo da vida do que com o que se relacionava com a Religião. O laicismo dominava as mentes e os costumes.
   Nesse contexto histórico, nasceu Raimundo Kolbe, em 8 de janeiro de 1894, na cidade polonesa de Zdu?ska Wola, recebendo no mesmo dia as águas batismais. Seus pais, Júlio Kolbe e Maria Dabrowska, eram lídimos cristãos e devotíssimos da Virgem Maria. De seus cinco filhos, dois faleceram quando ainda crianças, e os outros três abraçaram a vida religiosa.
Uma visão que deu rumo à sua vida
    Criança muito viva e travessa, Raimundo recebeu certo dia uma repreensão de sua mãe que lhe marcou a vida:
- Se aos dez anos você é tão mau menino, briguento e malcriado, como será mais tarde?
Essas palavras calaram fundo na alma do pequeno. Ficou aflito e pensativo. Queria mudar de vida e recorreu a Nossa Senhora. Ajoelhado aos pés de uma bela imagem da igreja paroquial, perguntou-Lhe:
- Que vai acontecer comigo?
   Qual não foi sua surpresa, quando lhe apareceu a Mãe de Deus, trazendo em Suas mãos duas coroas, uma branca e outra vermelha. Sorrindo maternalmente, perguntou-lhe qual escolhia. A branca significava que perseveraria na castidade e a vermelha, que seria mártir. Grande alma, ele escolheu as duas.
A vocação religiosa
      Nasceu-lhe, então, por graça da Imaculada, a vocação religiosa. Decidiu ser capuchinho franciscano, e aos 14 anos começou os estudos em ?ód?, no seminário menor dos frades conventuais, junto com seu irmão Francisco.
   Aos 16 anos, foi admitido no noviciado, escolhendo o nome de Maximiliano, em honra do grande mártir africano. Quiçá pensasse já em seu futuro...
   No ano seguinte, pronunciou os votos simples. Por sua privilegiada inteligência, decidiram os superiores mandá-lo para a Cidade Eterna, a fim de continuar os estudos no Colégio Seráfico Internacional, dos franciscanos, e em seguida cursar filosofia na famosa Universidade Gregoriana.
    Ouvindo falar das especiais dificuldades que havia para se manter a pureza na Roma de então, o jovem frade pediu para não ir. Mas, em nome da santa obediência, partiu para a Capital da Cristandade onde, além de completar seus estudos, fez sua profissão solene a 1 de novembro de 1914, acrescentando ao seu nome religioso o de Maria, a Virgem Imaculada.
Começam os anos de luta
   Em Roma, Maximiliano chocou-se com a insolência com que os inimigos da Igreja a atacavam, sem a proporcionada reação dos católicos. Resolveu então entrar na luta antes mesmo de receber a ordenação presbiteral. Reunindo em torno de si seis condiscípulos, fundou em 1917 a associação apostólica Milícia de Maria Imaculada, cujos estatutos começavam por declarar seus objetivos: a conversão dos pecadores, inclusive dos inimigos da Igreja, e a santificação de todos os seus membros, sob a proteção de Maria Imaculada. Nela aceitou apenas jovens destemidos e verdadeiramente dispostos a acompanhá- lo nessa empresa, com o título de Cavaleiros de Vanguarda.
SMAXIMILIANO. Sua sede de almas ficou gravada nas atas de sua ordenação sacerdotal, que se deu em 28 de abril de 1918. Na manhã seguinte, quis celebrar sua primeira Missa no altar da Madonna del Miraccolo, na igreja de Sant'Andrea delle Fratte, porque aí se dera o célebre episódio com Afonso Maria Ratisbonne: ante a aparição da Santíssima Virgem, ajoelhara-se judeu e levantara católico, numa conversão miraculosa e instantânea, em 1842. E na agenda das Missas de seus primeiros dias de sacerdote, o padre Kolbe escreveu que queria celebrar o Santo Sacrifício para "impetrar a conversão dos pecadores e a graça de ser apóstolo e mártir".2
Progresso a serviço da Fé
   Voltando à Polônia em 1919, esteve internado em um sanatório devido a sérios problemas de saúde. Tão logo se restabeleceu, fundou o jornal mensal da sua associação - Cavaleiro da Imaculada - pondo o progresso técnico do seu tempo em matéria gráfica, a serviço da Fé.
    Na véspera do lançamento, reuniu os operários, colaboradores e redatores - ao todo 327 pessoas -, e passaram o dia em jejum e oração. Nessa noite, foi organizada uma grande vigília de Adoração ao Santíssimo Sacramento e de oração à Santíssima Virgem, para que abençoassem esse empreendimento. Na noite seguinte, as rotativas imprimiram o primeiro número do jornal, "filho" dessas orações. Um grande impulso à sua obra ocorreu em 1927, quando o príncipe João Drucko-Lubecki cedeu ao padre Maximiliano um terreno situado a 40 quilômetros de Varsóvia. Aí, homem de grandes horizontes, começou ele a construir uma Niepokalanów - Cidade de Maria. Planejava a edificação de um enorme convento e novas instalações de sua obra de imprensa. Com que dinheiro? "Maria proverá - dizia o santo varão - este é um negócio dela e de seu Filho!".
E não foi defraudado em sua confiança. Em 1939, o jornal tinha já a surpreendente tiragem de um milhão de exemplares, e a ele se haviam juntado outros dezessete periódicos de menor porte, além de uma emissora de rádio. A Cidade de Maria contava então com 762 habitantes, sendo 13 sacerdotes, 18 noviços, 527 irmãos leigos, 122 seminaristas menores e 82 candidatos ao sacerdócio. Nela habitavam também médicos, dentistas, agricultores, mecânicos, alfaiates, construtores, impressores, jardineiros e cozinheiros, além de um corpo de bombeiros.
   O que alimentava o dinamismo de sua obra apostólica era a sólida piedade incutida por ele nos seus discípulos. Sua mola propulsora era o amor entusiasta e militante a Maria Imaculada, da qual ele se sentia, mais do que um escravo, uma simples propriedade. E na Eucaristia estava a fonte da fecundidade de seus empreendimentos. Instituiu a Adoração Perpétua em Niepokalanów, e ele mesmo iniciava todos os seus trabalhos com um ato de Adoração ao Santíssimo Sacramento.
Incursão pelo Oriente
Em seu anelo de expandir por todo o orbe sua obra evangelizadora, decidiu fazer uma incursão pelo Oriente, pois queria editar sua revista nos mais diversos idiomas para atingir milhões de almas em todo o globo. Aspirava ter uma Cidade de Maria em cada país.
De início, conseguiu fundar uma em Nagasaki, no Japão. Em 1930, a Niepokalanów japonesa dispunha já de uma tipografia onde foram impressos os primeiros dez mil exemplares de Cavaleiro da Imaculada no idioma dos samurais. Até os dias de hoje, mantém-se ali sua obra apostólica, com trabalhadores nativos e numerosos sacerdotes.
    Mais tarde, antes dos trágicos acontecimentos da Guerra, contou a seus religiosos uma graça mística que recebera em terras nipônicas. Graça quiçá decisiva para sua fortaleza nas atribulações pelas quais teve de passar. No refeitório da Cidade de Maria, depois de um jantar, disse-lhes: "Eu vou morrer e vocês vão ficar. Antes de me despedir deste mundo, quero deixar- lhes uma lembrança [...], contando- lhes algo, pois minha alma está transbordando de alegria: o Céu me foi prometido com toda segurança, quando estava no Japão. [...] Lembrem-se disso e aprendam a estar prontos para os maiores sofrimentos".3
A Segunda Guerra Mundial
   Quando estourou a Segunda Guerra Mundial, em 1939, a Cidade de Maria ficou muito exposta a riscos, pois se situava nas imediações da estrada de Potsdam a Varsóvia, rota provável de uma eventual invasão das tropas nazistas. Motivo pelo qual a prefeitura de Varsóvia ordenou sua pronta evacuação. Padre Maximiliano conseguiu lugar seguro para todos os irmãos, mas permaneceu ali, com cinquenta de seus colaboradores mais imediatos.
      Em setembro, as tropas invasoras levaram-nos presos para Amtitz. Mas na festa da Imaculada, dia 8 de dezembro, foram todos libertados e voltaram para sua Niepokalanów, transformando- a em refúgio e hospital para feridos de guerra, prófugos e judeus.
    Retomaram também o labor apostólico, pois os invasores permitiram ao padre Kolbe continuar com suas publicações, à espera de um pretexto para acabar com seu apostolado. Com grande coragem, escreveu ele no último número de Cavaleiro da Imaculada, as seguintes palavras, de admirável honestidade intelectual e integridade de convicções: "Ninguém no mundo pode mudar a verdade. O que podemos fazer é procurá-la e servi-la quando a tenhamos encontrado. O conflito real de hoje é um conflito interno. Mais além dos exércitos de ocupação e das hecatombes dos campos de extermínio, há dois inimigos irreconciliáveis no mais profundo de cada alma: o bem e o mal, o pecado e o amor. De que nos adiantam vitórias nos campos de batalha, se somos derrotados no mais profundo de nossas almas?".4
    A propósito disso, em fevereiro de 1941, a Gestapo irrompeu na Cidade de Maria e levou presos o padre Kolbe e outros quatro frades, os mais anciãos. Na prisão de Pawiak, em Varsóvia, foi submetido a injúrias e vexações, e depois trasladado para o campo de extermínio de Auschwitz.
No campo de Auschwitz

Começaram para o santo mártir as estações de sua via-crucis. Passou a primeira noite numa sala com outros 320 prisioneiros. Na manhã seguinte, foram todos desnudados, lavados com jatos de água gelada e recebendo cada qual uma jaqueta com um número. Coube-lhe o 16.670. Quando o oficial viu seu hábito religioso, ficou irritado. Arrancando com violência o Crucifixo de seu pescoço, gritou-lhe:
- E tu acreditas nisto?
   Ante a categórica resposta afirmativa, deu-lhe uma "valente" bofetada! Por três vezes repetiu a pergunta e por três vezes o santo religioso confessou sua Fé, recebendo o mesmo bestial ultraje. A exemplo dos Apóstolos, São Maximiliano dava graças a Deus por ser digno de sofrer por Cristo: "Eles saíram da sala do Grande Conselho, cheios de alegria, por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus" (At 5, 41). Maria não o abandonou um instante sequer.
 Ao entrar no campo de concentração, os guardas faziam uma revista minuciosa em todos os prisioneiros e lhes tiravam todos os objetos pessoais. Entretanto, o soldado que revistou o padre Kolbe devolveu-lhe o Rosário, dizendo:
- Tome seu Rosário. E vá lá para dentro! - Era um sorriso de Nossa Senhora, como a dizer-lhe que estaria com ele a cada momento.
Martírio no "‘bunker' da morte"
   São bem conhecidos os demais episódios que se deram no campo de Auschwitz: o comportamento do santo sacerdote franciscano, sua incansável atividade apostólica, em cada bloco para onde era mandado, etc.S Maximilaino Maria Kolbe
  No final de julho de 1941, foi transferido para o Bloco 14, cujos prisioneiros faziam trabalhos agrícolas.    Tendo um deles conseguido fugir, dez outros, escolhidos por sorteio, foram condenados ao "bunker da morte": um subterrâneo onde eles eram jogados desnudos, e permaneciam sem bebida nem alimento, à espera da morte.
  Ante o desespero daqueles infelizes, São Maximiliano ofereceu-se para ficar em lugar de um deles, pai de família, e foi aceito por ser sacerdote. O ódio dos esbirros ao religioso era notório, mas ficaram estupefatos ao verificar até onde pode chegar a coragem, a fortaleza e o heroísmo de um padre católico, em cuja fisionomia se revelava um varão na força do termo. Sem dúvida, movia-o uma autêntica caridade para com seu conterrâneo, entretanto, outra razão também elevada o levou a tomar essa decisão: o desejo de ajudar aqueles condenados a terem uma boa morte, salvando suas almas.
  Fechado o bunker, estava para sempre encerrado para eles o contato com o mundo exterior. Naquelas terríveis horas sem outra expectativa que a da morte, tratava-se de cada qual pôr em ordem sua consciência. Pode-se imaginar qual seria o medo da morte, do Juízo, do sofrimento, a tentação de desespero... Em tal situação, que privilégio poder ter por companheiro um sacerdote santo! Graças a ele, o bunker da morte se converteu em capela de oração e de cânticos... com vozes cada dia mais débeis. Três semanas depois, restavam vivos apenas quatro. Julgando que aquela situação se prolongava demasiado, decidiram as autoridades aplicar-lhes uma injeção letal de ácido muriático.
   Padre Kolbe foi o último a morrer naquele pavoroso subterrâneo. Estendeu espontaneamente o braço para a injeção. Alguns momentos depois, um funcionário do campo o encontrou morto "com os olhos abertos e a cabeça inclinada. Seu rosto, sereno e belo, estava radiante".5
  Cumprira sua última missão: salvara a si próprio e aos demais. Era o dia 14 de agosto de 1941, véspera da Assunção de Maria.
A inspiração de sua vida foi a Imaculada

E no dia 10 de outubro de 1982, na Praça de São Pedro, uma multidão de mais de duzentas mil pessoas ouvia um Papa, também polonês, declarar mártir esse sacerdote exemplar que não só morreu para salvar uma vida, mas, sobretudo, viveu para salvar muitas almas. Ele que jamais se cansava de dizer: "Não tenham medo de amar demasiado a Imaculada; jamais poderemos igualar o amor que teve por Ela o próprio Jesus: e imitar Jesus é nossa santificação. Quanto mais pertençamos à Imaculada, tanto melhor compreenderemos e amaremos o Coração de Jesus, Deus Pai, a Santíssima Trindade".6
Pois, como afirmou João Paulo II ao canonizá-lo, "a inspiração de toda a sua vida foi a Imaculada, a quem confiava seu amor a Cristo e seu desejo de martírio".7  (Revista Arautos do Evangelho, Agosto/2009, n. 92, p. 34 à 37)

Fonte: http://www.arautos.org

  

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

"Há momentos em que é preciso escolher entre viver a sua própria vida..."




"Há momentos em que é preciso escolher entre viver a sua própria vida plenamente, inteiramente, completamente, ou assumir a existência degradante, ignóbil e falsa que o mundo, na sua hipocrisia, nos impõe."
(Oscar Fingall O'Flahertie Wills Wilde, 1854 - 1900)

A ALEGRIA DE DEUS

  Desde a primeira página da Bíblia, Deus nos é apresentado como alguém que gosta de olhar para sua criação: "E Deus viu que tudo era bom". Agradam-lhe a multiplicidade e diversidade dos seres que cria. Sente um prazer especial em olhar para cada uma de suas criaturas. 
       A Bíblia sempre volta a essa verdade extraordinária. Sofonias, profeta da alegria divina, mostra-nos Deus, dançando de alegria, diante da renovação de seu povo (3,14-15). O autor inspirado dos Provérbios apresenta-nos a Sabedoria de Deus fazendo as delícias do Senhor e deliciando-se ela em estar com os filhos dos homens (8,30-31). E o Sl 103 exclama: Alegre-se Deus em suas obras!"
      

     
     Mas para melhor valorizar essa alegria de Deus, os profetas empregam uma outra comparação. Deus não apenas nos admira, como um artista admira suas obras ou como um pai admira seus filhos. Ele nos olha com os olhos de um marido que se extasia diante de sua jovem mulher.


       Assim como um jovem desposa uma jovem, aquele que tiver construído te desposará; e como a recém- casada faz a felicidade de seu marido, tu farás a felicidade de teu Deus (Is 62,5).
   E no Cântico dos Cânticos, o esposo divino exclama, ao olhar para a esposa: "És toda bela, ó minha amiga, tu me fazes delirar com um só dos teus olhares, como uma só pérola do teu colar"(4,7-9). Comentado essa passagem, João da Cruz se alegra ao pesamento de podermos agradar a Deus pelo menor de nossas ações cumpridas com amor. Teresa também gostava muito desse texto. 
    Sob o pretexto de sermos sempre, aos olhos de Deus, uns pobres pecadores, seria um erro achar que em nós não existe nada válido. Claro, sempre somos crianças diante de Deus - e até crianças pecadoras - mas crianças nas quais pode colocar suas complacências. Melhor ainda, sente por nós a paixão que arrasta para a bem- amada um enamorado. Esta linguagem nupcial da aliança de Deus com seu povo exprime, de maneira talvez mais significativa ainda que a linguagem paternal, a que dignidade o  Senhor nos eleva: faz de nós seus amigos, podemos dar-lhe alguma coisa, contribuir para sua alegria eterna. O ágape de Deus por nós não é um amor em "mão única", não esperando nada em compensação; é uma philia, uma amizade.



       A maravilha do amor divino, tal como o descreva São João, dirigindo-se de início a homens pecadores e indignos, tende a torná-lo dignos de amor, amigos de Deus, capazes de pagar amor com amor. Deus se digna dar a maior importância à nossa resposta humana. 
        


  Deveríamos comungar mais com a admiração de Deus pela criação, alegrar-nos com ela. Quando, à noite, cruzamos com pessoas de volta do trabalho, pensamos no olhar de ternura a admiração de Deus para nós: Está indo bem! diz ele, verificando o desenvolvimento de seus filhos e , por mais que o diga Hughes Auffray, nunca se irrita na sua oficina. 
   

  Depende de nossa generosidade que o mundo seja eternamente mais belo... Até para Deus!
     Fonte: O segredo de um sorriso (Teresa de Lisieux) - P. Descouvemont - edições paulinas

UM AMOR QUE GOSTA DE OLHAR PARA NÓS




             Deus nos ama com um amor absolutamente gratuito, incondicional. Seu amor não é motivado por nosso valor, pois é anterior à nossa existência e subsiste apesar de nossos pecados.
             A partir do momentos em que começamos a viver, somos para sempre objeto da ternura de Deus. Podemos recusar esse amor - é o drama daquele que se condena - mas nunca poderemos impedir Deus de nos amar. 
           No entanto, não devemos imaginar que Deus derrama seu amor sobre nós com uma cascata despeja suas águas num lago de montanha, indiferente à maneira pela qual recebemos seu amor. Apesar de não ficar com depressão nervosa porque o esquecemos, nem de ter  realmente necessidade da reciprocidade de nosso amor, Deus não lhe é insensível. 
Fonte: O segredo de um sorriso (Teresa de Lisieux) - P. Descouvemont - edições paulinas 

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

SEJA UMA PONTE PARA SEU IRMÃO


NÃO DEVEMOS PERDER JESUS DE VISTA


OBSERVE SE ESTÁ IMITANDO À CRISTO


Santa Clara de Assis



Alguns traços da vida e da obra de uma Santa que, como São Francisco, marcou sua época. Os que conviveram com ela não acreditavam “que de Nossa Senhora Bem-aventurada Virgem Maria para cá tivesse havido jamais alguma mulher de maior santidade do que ela”.
Num Domingo de Ramos, dia 18 de março de 1212, uma jovem, aos dezoito anos de idade, foge da casa de seus pais e se encaminha para a igrejinha da Porciúncula (na atual basílica de Santa Maria dos Anjos), onde São Francisco de Assis e seus Frades, em oração, aguardavam sua chegada.
Com círios acesos, os religiosos saem ao encontro da jovem, então luxuosamente adornada com seus trajes de fidalga, em direção à porta da igrejinha. Conduziram-na diante do altar de Nossa Senhora e a uniram para sempre ao seu Esposo Jesus Cristo. Ali mesmo, em presença de amigas e dos religiosos, São Francisco lhe corta os belos cabelos loiros. Essa tonsura é sinal de que a jovem, Clara de Assis, pertence virginalmente a Nosso Senhor.
Após esse ato, os Frades a acompanham até o mosteiro das Beneditinas de Bastia.
Irredutível resistência à família, por amor à vocação.
Entretanto, os familiares reagem com grande indignação a esta fuga. Mas a Santa não se entrega, permanecendo irredutível. Quando percebe que a violência está por prevalecer, agarra com uma mão a toalha do altar e com a outra tira o véu da cabeça… Aí seus parentes constatam que ela já é de Nosso Senhor, e as esperanças de demovê-la caem por terra.
Depois da Páscoa, Santa Clara sai da cidade de Bastia e vai para o mosteiro das Beneditinas de Sant’Angelo di Ponzo, onde, dezesseis dias depois de sua fuga, no dia 4 de abril, é alcançada pela sua irmã mais nova, Santa Inês, que também fugira de casa, querendo firmemente dedicar-se ao serviço de Deus.
A encantadora cidade de Assis fica em polvorosa e se divide: uns estão a da família das Santas; outros, das “fugitivas”. Desta vez, porém, o pai está decidido a reaver viva ou morta sua filha mais nova. Doze cavaleiros, parentes das Santas, invadem sacrilegamente o mosteiro de Sant’Angelo.
Um deles, chamado Monaldo, enfurecido, lança-se sobre Inês a socos e ponta-pés, arrastando-a pelos longos cabelos, enquanto outros agarram-na pelos braços e pelas vestes. E lhe infligiram tão desapiedados tratos, que pelo chão ficaram pedaços da roupa e punhados de cabelos. E assim conduziram-na montanha abaixo.
Santa Inês, contudo, grita pela irmã, a qual se põe a rezar em seu favor. Então, pela graça de Deus, repentinamente Inês caiu estendida no caminho, e tornou-se de um peso tal, que os doze homens, nem mesmo com o auxílio de alguns lavradores, conseguiram arrastá-la.
Mesmo assim continuaram as crueldades. O tio Monaldo alçou o braço direito para descarregar um golpe sobre Inês, que bastaria para dar-lhe a morte, se a houvesse alcançado. No ato de erguer a mão, porém, esta se lhe contraiu, e assim ficou por bastante tempo. Deixaram então Santa Inês na estrada e fugiram.
Fundação das Clarissas
Alguns dias após esses fatos, São Francisco de Assis faz uma visita ao mosteiro e reveste também Santa Inês do hábito da Ordem Segunda Franciscana, consagrando-a para sempre a Nosso Senhor. E escolhe para ambas as irmãs uma casa definitiva: a pobre residência da igreja de São Damião, situada fora dos muros de Assis.
Em pouco tempo, com outras jovens da cidade e de Perúsia, Santa Clara e Santa Inês formam a primeira comunidade das Irmãs Pobres de São Damião, que passarão a chamar-se Clarissas, após a morte de Santa Clara de Assis, ocorrida a II de agosto de 1253.
A consagração de Santa Clara
Em 1198,o povo da comuna de Assis elege os cônsules para administrar a cidade, derrubando um a um, todos os castelos dos “Maiores”. Os Beneditinos do Monte Subásio acolhem os nobres refugiados, mas muitos deles fogem de Assis.
Favorino Offreducci, pai de Santa Clara, refugia-se com sua família em Perúsia, onde permanece até 1209. Ao lado de sua mãe, Santa Clara cresce cortês e afável com todos, dedicando-se à oração e às obras de caridade, criando laços de amizade com outras meninas também exiladas em Perúsia, algumas das quais haveriam de acompanhá-la em Religião. Em 1209, Clara está novamente em Assis, onde, após ouvir uma pregação do grande São Francisco, decide consagrar-se inteiramente a Deus.
Enfrenta os sarracenos
Frederico II, Imperador da Alemanha, perjuro, sacrílego e várias vezes excomungado, por ter sucessivas querelas com diversos Romanos Pontífices, fazia guerra à Igreja e sobretudo aos religiosos. Para tanto tinha a soldo um exército de sarracenos com mais de vinte mil soldados, fixado na Itália, e particularmente no vale de Espoleto, pertencente à Santa Sé, e onde ficava Assis.
Certo dia do ano de 1243, estando Santa Clara acamada, ouviu suas religiosas em lágrimas lhe dizer, com grande pavor, que uma tropa de maometanos tinha invadido o claustro externo da igreja de São Damião e já escalavam as muralhas do mosteiro. A Santa, sem se espantar, ordenou que a levassem, doente como estava, à porta do mosteiro bem em face do inimigo.
Ali, precedida de uma caixinha de prata guarnecida de marfim, contendo o Santíssimo Sacramento, ela se prosternou, em lágrimas, dizendo a Nosso Senhor Sacramentado a seguinte oração:
“Senhor, guardai Vós estas vossas servas, porque eu não as posso guardar”.
Ouviu-se então uma voz de maravilhosa suavidade dizendo: “Eu te defenderei para sempre”.
Santa Clara rezou ainda pela cidade de Assis: “Senhor, que Vos apraza defender também a esta vossa cidade”. E a mesma voz disse: “A cidade sofrerá muitos perigos, mas será defendida” . Após o que Santa Clara se voltou para as Irmãs, dizendo: “Não fiquem com medo, porque eu sou a sita garantia de que não vão passar nenhum mal, nem agora nem no futuro, enquanto se dispuserem a obedecer os Mandamentos de Deus”. Os sarracenos foram embora sem fazer qualquer mal ou causar prejuízo ao mosteiro e às religiosas.
Aparições do Menino Jesus
Depondo sob juramento no processo de canonização, a Irmã Francisca de Messer Capitaneo de Col de Mezzo conta que certa vez viu no colo de Santa Clara, bem junto ao seu peito, uma criança belíssima, que só de vê-la sentia indizível suavidade e doçura. E que não tinha a menor dúvida de que se tratava do Menino Jesus.
Em outra ocasião ainda, julgando as Irmãs que a Santa estava para morrer, chamaram um sacerdote para dar-lhe a Comunhão. A mesma Irmã Francisca viu sobre a cabeça da Santa um esplendor muito grande e a Sagrada Eucaristia tinha o aspecto de uma criança pequena e belíssima. Depois de comungar, Santa Clara disse: “Foi tão grande o benefício que Deus me fez hoje, que com ele não poderiam ser comparados o céu e a terra”.
Milagres operados por Santa Clara em vida
Em certa ocasião, como não houvesse mais do que meio pedaço de pão para a refeição das Irmãs, Santa Clara mandou dividir essa metade em porções para dar às religiosas. Aquele pedaço multiplicou-se nas mãos da que o partia de tal forma que deu para cinqüenta porções, suficientes para as Irmãs que já estavam sentadas à mesa.
Mas a Santa, além de operar muitos milagres, exerceu também ação exorcística. Como exemplo, cabe lembrar o caso da mulher de Pisa. Dizia esta que Nosso Senhor, pelos méritos de Santa Clara a havia libertado de cinco demônios que a atormentavam, e que por isso, tinha vindo ao locutório das Irmãs para agradecer primeiro a Deus e depois à Santa. Ao serem expulsos, afirmou a mulher que os demônios bradavam: “As orações dessa santa nos queimam”.
Milagres após a morte
Depois de sua morte multiplicaram-se os milagres junto a sua sepultura. Assim, curou um epiléptico que. ademais, tinha uma das pernas atrofiadas. Ali receberam a cura integral pessoas cegas, corcundas, aleijadas em geral, possessas e loucas.
Santa Clara escritora
Santa Clara foi excelente escritora. Tendo recebido em casa uma formação muito boa para seu tempo, teve o dom de expressar em seus escritos toda a riqueza de seu pensamento claro, conciso, elegante e principalmente entusiasmado por tudo quanto dizia respeito a Deus.
O que se conhece de seus escritos revela uma mulher inteligente e culta, que sabe muito bem o que quer e o exprime de maneira muito feliz. Dominava bastante bem o uso do latim, distinguindo-se pela simplicidade, clareza e objetividade.
“Falo com minha própria alma”
Três dias antes de sua morte, em presença de algumas de suas Irmãs, Santa Clara encomendou sua própria alma a Deus dizendo: “Vá em paz, porque tens boa escolta; pois aquele que te criou, previu tua santificação. E, depois que te criou, infundiu-te o Espírito Santo. E depois te guardou como uma mãe cuida do seu filho pequenino”.
Indagada a quem dirigia aquelas palavras respondeu: “Falo com a minha alma bendita”.
Visita de Nossa Senhora à hora da morte

Às vésperas da morte de Santa Clara tinha-se a impressão de que a corte celestial se movimentava para preparar suas honras fúnebres.
A Irmã Benvinda de dona Diambra de Assis, que a assistia nos últimos momentos, viu de repente com os olhos reais uma grande multidão de virgens, vestidas de branco, todas com coroas na cabeça, que entravam pela porta onde jazia Santa Clara. Entre elas havia uma maior, que excedia tudo quanto se possa imaginar, muito mais bela e com uma coroa maior na cabeça. Em cima de sua coroa havia um pomo dourado do qual irradiava tanto esplendor que parecia iluminar todo o recinto.
As virgens aproximaram-se do leito da Santa, e a Virgem maior foi a primeira a cobri-la com um pano finíssimo, tão fino que por sua transparência Santa Clara podia ser vista mesmo coberta com ele. Então a Virgem das virgens inclinou o seu rosto sobre a Santa e após isso todas desapareceram…
Considerações finais
Quem ler a Legenda de Santa Clara, escrita por Tomás de Celano, não se surpreenderá vendo-a cantar tantos louvores à Santa. Escrita por ocasião de sua canonização, em 1255, era natural que sua tarefa fosse louvá-la efusivamente.
Entretanto, é impressionante que o mesmo Celano, ao escrever a primeira biografia de São Francisco de Assis, em 1228, quando Clara não tinha mais do que 34 anos de idade (dos sessenta que deveria viver, quarenta e dois dos quais como Abadessa das Irmãs Pobres de São Damião) já fale dela como de uma santa canonizada:
“Clara… virgem no corpo e puríssima no coração; jovem em idade mas amadurecida no espírito. Firme na decisão e ardentíssima no amor de Deus. Rica em sabedoria, sobressaiu na humildade. Foi clara de nome, mais clara por sua vida e claríssima em suas virtudes…
Relicário com corpo de Santa Clara


“Clara de verdade pela santidade de seus merecimentos…”
Mas, quando o Processo de Canonização de Santa Clara foi descoberto, em 1920, é que se fica sabendo da forte impressão que ela exerceu sobre seus contemporâneos, desde criança: tanto as irmãs como os leigos que depõem ficam sem palavras para comentar a santidade dessa mulher que, para eles, “abaixo da Virgem Maria”, não devia ter igual.
Leitor, se em meio às vicissitudes dos dias atuais, necessitas por ventura de alguma ajuda muito especial, pede-a a Santa Clara, quem, no Céu, bem junto ao Imaculado Coração de Maria, rogará também insistentemente por ti!
Trecho da Bula de canonização de Santa Clara, publicada pelo Papa Alexandre IV, que canonizou a Santa em Anagni a 15/8/1255
“Clara, preclara por seus claros méritos, clareia claramente no céu pela claridade da grande glória, e na terra pelo esplendor dos milagres sublimes. Brilha aqui claramente sua estrita e elevada religião, irradia no alto a grandeza de seu prêmio eterno, e sua virtude resplandece para os mortais com sinais magníficos.
“A esta Clara foi dado o título do privilégio da mais alta pobreza; a ela é dada nas alturas como recompensa lima profusão inestimável de tesouros; e os católicos demonstram para com ela plena devoção e uma honra imensa. Esta Clara foi distinguida aqui por suas obras fulgidas, esta Clara é clarificada no alto pela plenitude da luz divina. E a maravilha de seus prodígios estupendos declara-a aos povos cristãos.
“Ó Clara, dotada de tantos modos pelos títulos da claridade! Foste clara antes da tua conversão, mais clara na conversão, preclara por teu comportamento no claustro, preclara pelos seus claros méritos, e brilhante claríssima depois do curso da presente existência!
“O mundo recebeu de Clara um claro espelho de exemplo: por entre os prazeres celestiais ela oferece o lírio suave da virgindade. E na terra sentem-se os remédios manifestos do seu auxílio.
“Ó admirável clareza da bem-aventurada Clara, que quanto mais diligentemente é buscada em pontos particulares mais esplendidamente é encontrada em tudo. Brilhou no século e resplandeceu na religião. Em casa foi luminosa como um raio, no claustro teve o clarão de um relâmpago! Brilhou na vida, irradia depois da morte. Foi clara na terra e reluz no céu! Como é grande a veemência de sua luz e como é veemente a iluminação de sua claridade!”

FONTES DE REFERÊNCIA
1.Analecta Francisco, X.
2. J. Cambell, Actus Beati Francisci et sociorum ejus. Edizioni Porziuncola, 1988.
3. Bughelti, OFM, Legenda de Santa Clara, in revista do Archivum Franciscanum Historicum, 1912.
4. Bula de Canonização, Clara claris praeclara (1255). in revista do Archivum Franciscanum
Historícum. 1920.
5. Frei Zeferino Lazzeri, Processo de. Canonização,in revista do Archivum Franciscanum Historicum, 1920. E o manuscrito nº 251, da Coleção Laudau-Finaly, da Biblioteca Nacional de Florença.
6. M. F. Bccker, J.F. Godet, T. Matura, Claire d’Assise: Écrits, Paris. Editions du Cerf, 1985.
7. Omaechevarria, Escritos de Santa Clara, BAC, Madrid, 1982.
8. Frei José Carlos Corrêa Pedroso, OFMCap, Fontes Clarianas, Vozes, Petrópolis.

 Fonte: http://www.aascj.org.br 

UM DEUS QUE PERDOA

     Mas a gratuidade do amor divino ainda não disse sua última palavra!
    Deus vai nos manifestar até onde ela pode ir, amando-nos apesar de nosso pecado. Então seu amor se faz  Misericórdia, isto é, nossa miséria não o impede de conservar para nós todo seu coração de Pai.
     Isto quer dizer, concretamente, que não houve uma única noite em nossa vida em que Deus nos amasse menos porque tivéssemos "desmerecido" a seus olhos. Como poderia o amor infinito de Deus ter-nos amado menos em algum momento de nossa vida? O amor de Deus não é como o nosso que tem seus altos e baixos. No coração de Deus não há "quedas de pressão". O amor a cada um nós é sempre infinito. 
        
      Em nós é que, às vezes, existe baixa de pressão. Em determinados momentos - principalmente depois de certas faltas - não temos mais coragem de acreditar na profundeza de seu amor misericordioso. As parábolas do Evangelhos clamam, entretanto, em todos os tons, essa misericórdia incansável do Pai. Nossas sandálias, nosso anel e nossa túnica de festa estão sempre preparadas na sua casa e ele só deseja no-los dar. E Jesus sempre repetiu não ter vindo pelos justos, mas pelos pecadores e que o Filho do homem tinha vindo procurar e salvar o que estava perdido.
    Pode-se dizer, sem medo de errar, que só compreendeu verdadeiramente o Evangelho quem já descobriu essa profundeza do amor de Deus por nós. Só tendo visto claramente a miséria de que se é capaz, pode-se saborear a ternura incomparável de Deus. A vergonha de ter pecado cede então lugar à confusão de ser tão amado, "apesar de tudo"!
    

     Não é necessário ter pecado muito para conhecer, por experiência, a profunda miséria de nosso coração. Basta ter reparado, em certos momentos, como seríamos capazes do pior e como talvez o tivéssemos feito, se as circunstâncias nos tivessem favorecido. 
    Não foi à-toa que terminara o último manuscrito com frase: "Não é por ter Deus, em sua preveniente misericórdia, preservado minha alma de pecado mortal, que me elevo até ele pela confiança e pelo amor". 
      Tal é profundeza do amor do Pai por nós. Não apenas vem habitar o íntimo de nosso ser para o transfigurar, divinizar, mas vem buscar-nos no fundo de nossa miséria. Não desanima com mediocridade de nossa vida. 
       Este amor se manifestou, de maneira definitiva, em Nazaré e em Jerusalém. Em Nazaré é Deus que se dá. O Filho de Deus ama os homens de tal modo que vem habitar no meio deles, dar-se-lhes inteiramente, permitir-lhes viver, com ele, uma vida de filhos de Deus.
       Em Jerusalém é Deus que perdoa. O Filho de Deus continua a mar-nos e sorrir-nos, até mesmo na hora em que o torturamos, ridicularizamos, pregamos na cruz: "Façam-me sofrer o quanto quiserem, é como se nos dissesse Jesus na Cruz, nada me impedirá de amá-los".
    Santa Teresa do Menino Jesus da Santa Face tinha recebido a graça de compreender, de modo muito intenso, esta dupla lição do presépio e do calvário: Gostava muito do diálogo atribuído a São Bernardo: 
- Jesus, quem o fez tão pequenino?
- O amor.
    "O único crime de que Herodes acusou Jesus, escreve, foi o de ser louco. Sim, era uma loucura procurar os pobres e pequenos corações dos mortais para fazer deles seus tronos, ele, o Rei da glória, que está assentado sobre os querubins! Ele, cuja presença replena os céus! Era, louco, o nosso Bem - amado, vir à terra procurar pecadores para faze-los seus amigos, seus íntimos".
    Nunca nos esqueçamos que, de fato, é ele que nos olha primeiro. Ele nos ama primeiro: Só o teu olhar faz a minha felicidade. Vivo de amor. 
Fonte: O segredo de um sorriso (Teresa de Lisieux) - P. Descouvemont - edições paulinas