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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

A ALEGRIA DE DEUS

  Desde a primeira página da Bíblia, Deus nos é apresentado como alguém que gosta de olhar para sua criação: "E Deus viu que tudo era bom". Agradam-lhe a multiplicidade e diversidade dos seres que cria. Sente um prazer especial em olhar para cada uma de suas criaturas. 
       A Bíblia sempre volta a essa verdade extraordinária. Sofonias, profeta da alegria divina, mostra-nos Deus, dançando de alegria, diante da renovação de seu povo (3,14-15). O autor inspirado dos Provérbios apresenta-nos a Sabedoria de Deus fazendo as delícias do Senhor e deliciando-se ela em estar com os filhos dos homens (8,30-31). E o Sl 103 exclama: Alegre-se Deus em suas obras!"
      

     
     Mas para melhor valorizar essa alegria de Deus, os profetas empregam uma outra comparação. Deus não apenas nos admira, como um artista admira suas obras ou como um pai admira seus filhos. Ele nos olha com os olhos de um marido que se extasia diante de sua jovem mulher.


       Assim como um jovem desposa uma jovem, aquele que tiver construído te desposará; e como a recém- casada faz a felicidade de seu marido, tu farás a felicidade de teu Deus (Is 62,5).
   E no Cântico dos Cânticos, o esposo divino exclama, ao olhar para a esposa: "És toda bela, ó minha amiga, tu me fazes delirar com um só dos teus olhares, como uma só pérola do teu colar"(4,7-9). Comentado essa passagem, João da Cruz se alegra ao pesamento de podermos agradar a Deus pelo menor de nossas ações cumpridas com amor. Teresa também gostava muito desse texto. 
    Sob o pretexto de sermos sempre, aos olhos de Deus, uns pobres pecadores, seria um erro achar que em nós não existe nada válido. Claro, sempre somos crianças diante de Deus - e até crianças pecadoras - mas crianças nas quais pode colocar suas complacências. Melhor ainda, sente por nós a paixão que arrasta para a bem- amada um enamorado. Esta linguagem nupcial da aliança de Deus com seu povo exprime, de maneira talvez mais significativa ainda que a linguagem paternal, a que dignidade o  Senhor nos eleva: faz de nós seus amigos, podemos dar-lhe alguma coisa, contribuir para sua alegria eterna. O ágape de Deus por nós não é um amor em "mão única", não esperando nada em compensação; é uma philia, uma amizade.



       A maravilha do amor divino, tal como o descreva São João, dirigindo-se de início a homens pecadores e indignos, tende a torná-lo dignos de amor, amigos de Deus, capazes de pagar amor com amor. Deus se digna dar a maior importância à nossa resposta humana. 
        


  Deveríamos comungar mais com a admiração de Deus pela criação, alegrar-nos com ela. Quando, à noite, cruzamos com pessoas de volta do trabalho, pensamos no olhar de ternura a admiração de Deus para nós: Está indo bem! diz ele, verificando o desenvolvimento de seus filhos e , por mais que o diga Hughes Auffray, nunca se irrita na sua oficina. 
   

  Depende de nossa generosidade que o mundo seja eternamente mais belo... Até para Deus!
     Fonte: O segredo de um sorriso (Teresa de Lisieux) - P. Descouvemont - edições paulinas