Revelando-nos esse mistério da Trindade, Jesus nos indicava não apenas a razão profunda da gratuidade absoluta do gesto criador. Trazia-nos sobretudo a Boa Nova de uma delicadeza extraordinária: se o Pai nos criou foi, afinal, para que entrássemos como filhos, com todos os direitos, na sua família!
O Filho único veio partilhar nossa condição humana para nos levar, em suas mãos todo-poderosas de Ressuscitado, até aos braços do Pai. E é tão verdade que somos filhos do Pai que nos dá seu próprio Espírito, esse dom eterno com que está sempre cumulando o Filho no seio da Trindade.
Assim, pois, a oração do homem não mais consistirá apenas em receber todo o ser - corpo e alma - das mãos de Deus. Consistirá em receber o próprio Espírito de Deus, deixando-se invadir, impregnar, transformar por ele. O Pai e o Filho nos dão continuamente seu Espírito. Que alegria saber que Deus está tão próximo e se dá todo a nós.
"Meu céu, encontrei-o na Trinidade Santa que habita em meu coração, prisioneira de amor. Aqui, contemplando meu Deus, repito, sem medo, que quero servi-lo e amá-lo para sempre".
Não merecíamos existir e, muito menos, tornar-nos verdadeiramente filhos de Deus. De fato "o somos" (1 Jo 3, 1). Se nosso nascimento já é um dom absolutamente gratuito da parte do Pai, nosso renascimento nas águas do batismo é uma graça mais maravilhosa ainda. Aliás, a esse dom sobrenatural da própria vida do Pai, a teologia reserva o nome de "graça" . O que não quer dizer que o amor pelo qual Deus nos cria já não seja absolutamente gratuito, pois - nós o vimos - é um amor que nos cria "do nada". Isso também não significa que todos os homens não tenham sido chamados a tornar-se filhos de Deus, templos de Deus.
Teresa sempre se extasia diante desta vontade de Deus de habitar no coração do menor dos homens: "Só temos, pois, que entregar nossa alma, abandoná-la ao nosso grande Deus. Que importa, então , não possuir dons que brilhem exteriormente, se dentro refulge o Rei dos Reis com toda a sua glória! Como seria uma alma ser grande para poder conter um Deus!... No entanto, a alma de uma criança de um dia é para ele um paraíso de delícias".
Fonte: O segredo de um sorriso(Teresa de Lisieux) - P. Descouvemont - Edições paulinas