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segunda-feira, 11 de agosto de 2014

UM DEUS QUE PERDOA

     Mas a gratuidade do amor divino ainda não disse sua última palavra!
    Deus vai nos manifestar até onde ela pode ir, amando-nos apesar de nosso pecado. Então seu amor se faz  Misericórdia, isto é, nossa miséria não o impede de conservar para nós todo seu coração de Pai.
     Isto quer dizer, concretamente, que não houve uma única noite em nossa vida em que Deus nos amasse menos porque tivéssemos "desmerecido" a seus olhos. Como poderia o amor infinito de Deus ter-nos amado menos em algum momento de nossa vida? O amor de Deus não é como o nosso que tem seus altos e baixos. No coração de Deus não há "quedas de pressão". O amor a cada um nós é sempre infinito. 
        
      Em nós é que, às vezes, existe baixa de pressão. Em determinados momentos - principalmente depois de certas faltas - não temos mais coragem de acreditar na profundeza de seu amor misericordioso. As parábolas do Evangelhos clamam, entretanto, em todos os tons, essa misericórdia incansável do Pai. Nossas sandálias, nosso anel e nossa túnica de festa estão sempre preparadas na sua casa e ele só deseja no-los dar. E Jesus sempre repetiu não ter vindo pelos justos, mas pelos pecadores e que o Filho do homem tinha vindo procurar e salvar o que estava perdido.
    Pode-se dizer, sem medo de errar, que só compreendeu verdadeiramente o Evangelho quem já descobriu essa profundeza do amor de Deus por nós. Só tendo visto claramente a miséria de que se é capaz, pode-se saborear a ternura incomparável de Deus. A vergonha de ter pecado cede então lugar à confusão de ser tão amado, "apesar de tudo"!
    

     Não é necessário ter pecado muito para conhecer, por experiência, a profunda miséria de nosso coração. Basta ter reparado, em certos momentos, como seríamos capazes do pior e como talvez o tivéssemos feito, se as circunstâncias nos tivessem favorecido. 
    Não foi à-toa que terminara o último manuscrito com frase: "Não é por ter Deus, em sua preveniente misericórdia, preservado minha alma de pecado mortal, que me elevo até ele pela confiança e pelo amor". 
      Tal é profundeza do amor do Pai por nós. Não apenas vem habitar o íntimo de nosso ser para o transfigurar, divinizar, mas vem buscar-nos no fundo de nossa miséria. Não desanima com mediocridade de nossa vida. 
       Este amor se manifestou, de maneira definitiva, em Nazaré e em Jerusalém. Em Nazaré é Deus que se dá. O Filho de Deus ama os homens de tal modo que vem habitar no meio deles, dar-se-lhes inteiramente, permitir-lhes viver, com ele, uma vida de filhos de Deus.
       Em Jerusalém é Deus que perdoa. O Filho de Deus continua a mar-nos e sorrir-nos, até mesmo na hora em que o torturamos, ridicularizamos, pregamos na cruz: "Façam-me sofrer o quanto quiserem, é como se nos dissesse Jesus na Cruz, nada me impedirá de amá-los".
    Santa Teresa do Menino Jesus da Santa Face tinha recebido a graça de compreender, de modo muito intenso, esta dupla lição do presépio e do calvário: Gostava muito do diálogo atribuído a São Bernardo: 
- Jesus, quem o fez tão pequenino?
- O amor.
    "O único crime de que Herodes acusou Jesus, escreve, foi o de ser louco. Sim, era uma loucura procurar os pobres e pequenos corações dos mortais para fazer deles seus tronos, ele, o Rei da glória, que está assentado sobre os querubins! Ele, cuja presença replena os céus! Era, louco, o nosso Bem - amado, vir à terra procurar pecadores para faze-los seus amigos, seus íntimos".
    Nunca nos esqueçamos que, de fato, é ele que nos olha primeiro. Ele nos ama primeiro: Só o teu olhar faz a minha felicidade. Vivo de amor. 
Fonte: O segredo de um sorriso (Teresa de Lisieux) - P. Descouvemont - edições paulinas